Metas 2024

Eu já ouvi duas posições sobre compartilhar objetivos e sonhos. Uma era sobre não contar, de manter como algo seu e de alguma forma “concentrar a energia” naquilo. Outra é em divulgar, falar, criar “accountability” e permitir que mais pessoas se envolvam, te ajudem talvez.

Eu acredito que as duas formas podem ser úteis dependendo da personalidade e da fase em que a pessoa está. Há um tempo que eu tenho me movido mais na direção de compartilhar mais da minha vida, então aqui vão as minhas metas para este ano de 2024. 

Outro ponto, mais para mim do que qualquer coisa, é que algumas pessoas sugerem definir mais metas do que você acha que vai conseguir, pois assim você se mantém motivado. Já ouvi que se você alcançou mais de 70% das metas então deveria ter sido mais ousado. Enfim, tem algumas aqui que são menos importantes que outras, mas segue a lista completa das minhas metas, com uma “breve” explicação de cada. (não estão na ordem de prioridade)

– Ter a barriga tanquinho. 

Essa meta é meio ridícula, eu demorei para aceitar. É puramente vaidade. Por muito tempo eu tive o foco em saúde ou performance, mas recentemente eu notei que eu gostaria sim de ter uma barriga tanquinho, mesmo que apenas uma vez na vida. 

E também por estar tão perto. Eu venho focando em manter uma rotina de exercícios e alimentação saudável há alguns anos, com fases mais atento e outras com mais excessões. Acredito que é algo que eu vou ter e ver que não muda nada e talvez não valha o esforço de manter, e tudo bem.

Meu objetivo prático é chegar e manter 78 kg. Quando comecei estava com 83, e agora estou em 80. Faz parte do objetivo fazer isso bem, sem me sentir numa dieta ou com algo insustentável, e até agora está indo bem. Defini “barriga tanquinho” como: ter os músculos bem delineados estando em pé sem forçar. No momento, forçando eu tenho. 

– Ganhar 2 vezes o meu gasto mensal (ou mais). 

Essa meta veio de um comentário de um amigo, que falou que o ideal era você investir metade do que ganha. Eu aceitei como um desejo, e dali a alguns meses estava com um emprego que me pagava o suficiente para fazer exatamente isso. Todo mês eu investia a metade do meu salário (e quase sempre um pouco mais), vivendo bem com a outra metade. Claro que o seu custo de vida pode aumentar ou variar, mas meu objetivo é no mínimo estar ganhando o dobro do meu gasto mensal. De forma prática, hoje isso está em torno de 15 mil por mês. Eu já ganhei mais que isso e fiquei bem na dúvida com essa meta, se não seria um “passo atrás”. Muitos livros falam da importância de sonhar alto e etc. Mas eu tenho sim metas financeiras muito mais ousadas. Eu mudei de área e vou me estabelecer como criador de conteúdo, estou gravando cursos para lançar online, escrevi um livro e com outro à caminho, então entendo que isso tem seu tempo e decidi que por enquanto chegar em 15 mil por mês assim é uma grande vitória. Quero me estabilizar financeiramente com a 1a meta financeira, e depois existem as metas de crescimento. 

– Aprender a dar Aú (estrela) sem mão

Eu sempre gostei de acrobacias e quis ter esse domínio. Uma época entrei finalmente numa escola de circo, aprendi a dar mortal e fazer o flic-flac (eram minhas metas). Logo depois essa escola fechou e eu fui para a capoeira. Lá pratico vários movimentos, mas não é o melhor lugar para aprender novos, não tem colchões no chão ou assistência para saltos e etc. E eu acho a estrela sem mão linda e um que posso usar nas rodas. Então gostaria de dominar esse movimento. 

– Publicar meu livro sobre Negociação

Publicar o livro Gestão Kármica tem sido uma experiência interna muito rica. Ainda tem milhões de passos para aprender e crescer em termos de divulgação e propaganda online, mas já estou com esse 2o livro 70% escrito, quero terminar e lançar ainda este ano. 

– Ter mais de mil alunos no curso online

Assim que terminei de escrever o livro pensei em gravar direto um curso, mas me dei um tempo. Eu gosto muito da ideia de criar alguns cursos, e estou gravando um sobre Negociação junto com a escrita do novo livro. A meta de mil alunos às vezes me parece bem fácil e às vezes algo gigantesco. Veremos.

– Passar de 10 mil inscritos no meu canal do Youtube (e monetizá-lo)

Hoje o canal tem 2,3 mil inscritos. Quero ser mais consistente com a publicação de vídeos e melhorar em criar thumbnails e títulos. Eu não penso no youtube como uma forma direta de ganhos, mas mais como um espaço de prática, para aprender e treinar edição de vídeos, testar materiais e falar de assuntos que gosto como review de alguns produtos e livros. Mas crescer o canal e ter ele como uma renda extra em algum momento é algo que eu desejo sim. 

– Ter uma lista de espera de clientes de mentoria a 1000 reais a hora. 

Há muito tempo eu li sobre as formas de ganhar dinheiro. Uma seria aumentando o seu valor por hora. Pensei em mil reais por hora e isso ficou na minha cabeça. Conheço pessoas que cobram mais, e não acho que é algo distante, eu mesmo já ganhei mais que mil por hora em alguns casos, mas quero sistematizar isso. Vou lançar meu site com valores e “pacotes” da mentoria de negociação. Sinto que é algo mais fácil de monetizar, pois a maioria dos clientes são para negociação de aumento de salário (ou venda de um imóvel) e a pessoa vê o valor. Se em 4 reuniões ela tiver um aumento de 2-3 mil no salário, ou mais, ela paga mil reais por hora para mim feliz. E o meu objetivo é esse, gerar muito mais valor do que eu capturo. Sempre. 

– Melhorar minhas habilidades sociais (fazer novos amigos, iniciar conversas, contar histórias e casos, encontrar a minha forma de autenticamente me conectar e ser simpático)

Essa é uma meta ainda mais subjetiva, não quis metrificar (tipo criar X novos amigos por mês). Eu sou mais fechado muitas vezes, e em parte estou ok com isso, mas quero me colocar consistentemente mais fora da minha zona de conforto, e principalmente iniciando esse estilo de vida nômade, quero entender onde e como gosto de fazer novas amizades e buscar o meu equilíbrio entre momentos mais isolado e momentos mais sociáveis. 

– Escrever mil palavras por dia por 30 dias seguidos

Eu tenho várias metas para as quais escrever bem é fundamental. Uma época em que escrevi todo dia notei como a coisa ficou mais fácil e fluida mesmo, então quero criar e seguir essa rotina por pelo menos 30 dias seguidos, idealmente mais. 

– Postar 1 (ou mais) vídeos por semana por 4 meses 

Essa meta é um desdobramento da meta de ter 10 mil inscritos no canal. Acho que esse é o caminho, e de qualquer forma com um canal ainda iniciante como o meu, acho que é importante colocar um volume ali, treinar, experimentar e ir testando mesmo, tanto o público quando a mim, que vídeos eu gosto mais de fazer, quais foram frustrantes, quais bombam mais e etc. 

– Aprender espanhol num nível fluente (conversar bem sem travas)

Estou em Buenos Aires no momento, e acho que ter um espanhol bom é algo super viável para qualquer brasileiro. Essa é uma das metas “menos importantes”, mas coloquei aqui. Já consigo conversar e entender a maior parte das pessoas, mas teria que ler mais e me esforçar a falar bem mais para chegar nesse nível de fluência real. 

– Ajudar 10 pessoas a negociar com sucesso

Outra meta de desdobramento da de cobrar mil reais por hora. Os clientes de negociação que tive até agora foram todos meio que por sorte. Eu nunca divulguei esse serviço, então um foi indicação de um amigo, outro de um conhecido, outro me apareceu totalmente por acaso. Quero sistematizar isso e divulgar formalmente. 

– Vender mais de 100 mil reais em produtos online

Essa é uma meta financeira e de produção/criação. Ela não fala de lucro, pois eu sei que muitos criadores podem gastar uma fortuna em anúncios e vender muito mas lucrar pouco. Nesse momento eu me interesso mais em validar os produtos e dominar completamente o processo (de produção e de vendas). 

– Ter o melhor cartão de crédito para milhas 

Essa meta veio da minha namorada, ela está fazendo uma imersão nesse mundo das milhas, e vejo que é algo que quero entender e usar melhor. É uma das “menos importantes”, mas coloquei pois acho que seria uma conquista de qualquer forma, e um passo bacana no estilo de vida nômade digital. 

– Ter mais de mil inscritos na minha newsletter

Eu ainda não comecei uma newsletter e não sei se vou. Mas foi uma meta que coloquei no início do ano e ainda acho que pode ser um projeto valioso de seguir. 

– Participar de um projeto audiovisual internacional

Essa meta não é especificamente para este ano. Eu fiz teatro por um bom tempo e lembro de numa peça ser chamado para uma audição de um papel numa novela e outro num filme. Na época eu estava estagiando e fazendo faculdade, e decidi que não queria largar isso para me dedicar exclusivamente à atuação. Nunca me arrependi da minha decisão, mas desde então percebi que existem outras opções que não são “tudo ou nada”. E tenho notado uma vontade de retomar a atuação. Essa meta é o desejo de participar de algum projeto assim. Eu ia escrever “filme” inicialmente, mas percebi que estaria igualmente interessado em uma série ou outro formato. 

– Praticar e exercer o improviso teatral

Essa é bem similar a de cima. Eu amo improvisar. Já pensei várias vezes em criar um grupo de teatro e criar um espetáculo de improviso, como eu fiz no passado, mas até agora essa ideia segue como um “eventualmente”. Mas a meta não é “criar um espetáculo” pois o que eu mais quero é praticar, não necessariamente estar em cartaz. Super pode ser, mas por enquanto quero encontrar onde e com quem praticar improviso de qualidade, evoluir, treinar. 

– Ter mais de mil visualizações por vídeo no meu canal

Outro desdobramento de metas. A ideia é criar vídeos bons e que sejam vistos. Isso implica em bons títulos, thumbnails, conteúdo bem feito e boa edição, etc. Tudo que quero estar conseguindo fazer consistentemente. Atualmente alguns vídeos meus tem mil, 5 mil ou 10 mil visualizações (com uma excessão com 250 mil) mas muitos não passam de 100, então quero crescer de forma mais consistente. 

– Dormir bem 5+ noites por semana

A importância do sono tem ficado cada vez mais importante. Na média eu sinto que durmo bem, mas quero conseguir medir e criar rotinas sólidas para manter uma excelente qualidade de sono toda semana. 

– Reduzir ou eliminar a reclamação por 60 dias

Esse é um experimento que quero fazer. Não é urgente nem importante, mas tive essa ideia e resolvi anotar como meta para este ano. 

– Planejar meus dias por 21 dias (GTD e Cal Newport)

Outro experimento. Tem 2 livros que acho que falam muito bem sobre organização e planejamento. GTD é o Getting Things Done do David Allen. Eu quero experimentar seguir cada um dos métodos à risca por 21 dias e decidir depois se ou quanto quero seguir usando. Sinto que ainda produzo muito menos e procrastino muito mais do que queria, e essa meta nasceu da vontade de mudar isto. 

– Produzir um curso inteiro em 28 dias. 

Outro ponto onde acho que procrastino demais. Ouvi num podcast alguém falando em criar um curso em 20 dias, e adicionei mais 8 e me dei essa meta. Ainda não comecei mas pretendo usar como objetivo e prazo. 

– Fazer o split lateral completo

É bobo, mas sempre achei que uma pessoa mais alongada seria mais saudável e vi outro dia um vídeo de um cara que conseguiu fazer o split, o espacate completo em 30 dias, e ele começou mais ou menos com a mesma abertura que eu. Eu tenho zero pressa em fazer em pouco tempo, mas já comecei a me alongar toda vez que vou na academia e pretendo seguir assim até conseguir o espacate completo. 

É isso, essas são as minhas metas para o ano de 2024. 

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Foto: A estrada na Chapada dos Veadeiros, onde estava mês passado e onde comecei essa jornada no nomadismo digital!

Posfácio do meu livro: Gestão Kármica

Tenho recebido diversos feedbacks de pessoas que leram o meu livro, e me impressionei sobre quantos falaram especificamente sobre o posfácio. Então resolvi postar ele aqui na íntegra.

Posfácio 

A norma culta da língua portuguesa prioriza o gênero masculino. Quando cita-se, por exemplo, uma profissão, não há uma obrigatoriedade em que ela seja no masculino, apesar de ser esse o mais comum. “Se você for falar com o seu chefe…” ao invés de “Se você for falar com a sua chefe…

Também, apesar de não haver uma regra, quando um texto fala com a pessoa leitora, usa-se comumente o gênero masculino. Optei por priorizar o gênero feminino ao longo do livro, exceto quando falo de mim ou dou exemplos meus. 

Eu notei que houve, em mim, por muito tempo, um medo de errar, de passar a impressão de que eu ó-meu-Deus poderia não saber algo. Assim antes de qualquer coisa eu precisaria avisar à pessoa leitora que eu sei sim que a norma culta pede que, por exemplo, século seja XV e não 15, viu! Imagina se acham que eu não sei algarismo romano?

Mas essa regra não é nem é uma regra. É apenas um hábito consagrado. Diria que é mais inclusivo usar o numeral arábico (no Brasil mais pessoas reconhecem 15 do que XV), mas nem foi por isso que escolhi. Acho mais simples, mais orgânico, e vejo um valor também em ir contra regras arbitrárias quando há algum ganho nisso. Não estou levantando nenhuma bandeira contra o uso de algarismos romanos, mas acho importante lembrar que podemos fazer algumas coisas de forma diferente. Acho válido gerar, em alguns casos, um estranhamento. Isso fomenta uma reflexão que pode ser saudável, positiva. 

No caso do gênero, em especial, busquei conscientemente gerar esse estranhamento. Não acho que a norma deveria mudar para o feminino e, no momento em que escrevo este livro, não existe ainda um acordo aceito sobre um gênero neutro. Há algo sobre chamar a atenção para esse hábito de priorizar o masculino, sem exagerar o peso desta medida, sabendo que vai ser imperceptível para muitos, uma mera curiosidade para outros. O estranhamento, em geral, pode levar a uma reflexão sobre o assunto, dado que não seja polêmico ou agressivo demais. Vejo essa reflexão como saudável e valiosa.

A decisão de publicar um livro com estes pontos dúbios sem um aviso prévio foi por 3 motivos. O primeiro é o de gerar o estranhamento e a reflexão, e ele me parece mais forte sendo observado organicamente, por isso uma explicação no começo seria contra-producente. 

O segundo é mais pessoal. É uma forma de lidar com minhas inseguranças. De enfrentar o medo (mesmo que eu perceba quão infantil ele me soa ao ser escrito aqui), de me lembrar que tudo bem se alguém achar que eu não sei escrever, que estou errado ou sou limitado (e/ou coisas piores). 

Um grande número de pessoas começa mas não termina um livro. As estatísticas de abandono literário são altíssimas. Esse foi o terceiro motivo para eu colocar essas explicações no final. O objetivo deste livro é ensinar sobre Gestão Kármica. Se uma leitora abandonar o livro nas primeiras páginas, eu prefiro que ela saia sabendo algo sobre plantar e colher, sobre ajudar os outros a conseguir o que ela quer, do que gastar o seu precioso tempo comprovando que eu sei sim a norma ortográfica.

Eu tentei ser o mais direto ao ponto, mostrar o quanto antes sobre o que é o livro, lembrando também que a repetição é a mãe do aprendizado, e que ao longo do livro teria a oportunidade de aprofundar nos tópicos para as leitoras que seguissem adiante. 

Busquei fazer o livro mais conciso possível. Cortei muitos capítulos, trechos, parágrafos e divagações do manuscrito original na intenção de simplificar e ser o mais eficiente na transmissão do conhecimento. Um livro grande espanta muitas pessoas. Coloquei o máximo de exemplos, meus e de outras pessoas pois acho que é sempre mais fácil lembrarmos histórias do que conceitos puramente abstratos. 

No caso dos exemplos, usei de 3 tipos: pessoas famosas, exemplos meus e exemplos fictícios. 

A vantagem de usar uma pessoa famosa, uma figura pública é que as pessoas leitoras tendem a conhecer o caso, ou podem ter acesso se quiserem, podem pesquisar o que foi dito, conferir e aprofundar. Há um conforto em ler nomes e casos conhecidos, em observar talvez uma nova dimensão ou ver de uma forma diferente a vida daquela pessoa. Adoro ler biografias e aprendo muito com elas. 

Exemplos fictícios servem para ilustrar uma ideia sem se perder nos detalhes. Sempre que usei exemplos reais eu mudei o nome das pessoas para respeitar a privacidade de amigas e clientes, às vezes adaptando o caso para simplificar. 

Exemplos meus são os mais pessoais, os que posso falar com mais profundidade e propriedade. Busquei me colocar vulnerável e me abrir ao máximo também como um exercício pessoal. 

Muitos dos exemplos foram sobre dinheiro (bens materiais) e sobre relacionamentos afetivos. O primeiro motivo é que esses dois tópicos são, sem sombra de dúvidas, os mais constantes e consistentes de todos que buscam a Gestão Kármica, os interesses mais fortes do maior número de pessoas. 

Segundo, que são exemplos mais claros e objetivos. É fácil eu falar da fortuna do Warren Buffett, ele é um investidor famoso, ou do Michael Phelps, ou do Steve Jobs, pois esses dados são públicos e dinheiro é fácil de mensurar. Falar sobre felicidade ou de qualquer estado interno de satisfação é mais difícil, gera dúvidas, a pessoa pode estar mentindo sobre o que diz e é quase impossível encontrar evidências claras. Além disso, a nossa sociedade valoriza o sucesso financeiro e os bens materiais tendem a ser objetos de desejo. No entanto a Gestão Kármica se aplica tanto à objetivos materiais quanto aos imateriais, e recomendo você testar e expandir os horizontes do que é possível.

Trechos de livros em inglês que coloquei como citações foram de tradução livre minha para o português.  

Uso a Gestão Kármica há anos e vivo diariamente notando colheitas e plantios. Erro muito e sigo experimentando. Acredito profundamente que aplicar esses conceitos na sua vida vai fazer uma enorme diferença para melhor. Espero com todo o coração que você experimente e que compartilhe seus sucessos com amigas, familiares e desconhecidas.

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O ser humano tem a tendência de buscar exceções às regras. É algo natural, talvez uma forma de encontrar furos na lógica que se apresenta. Alguém fala uma regra e imediatamente buscamos um exemplo ao qual ela não se aplique. 

Quando falo sobre o Karma, é muito comum surgirem diversas dúvidas, por exemplo, sobre crianças que nascem com doenças, o que elas poderiam ter feito para merecer isso? 


O Karma é um tópico longo e complexo, e a religião e filosofia budista é um tema igualmente amplo e complexo, que se desenvolveu ao longo de séculos, com diversas vertentes em diferentes países. O conceito de Karma existe em diferentes religiões, muitas vezes com outros nomes, mas no Budismo e no Hinduísmo ele aparece de uma forma mais aproximada da que tratamos neste livro. 

Setores destas religiões acreditam na persistência da alma após a morte, e em um ciclo de reencarnação do espírito. Após a morte esse espírito poderia reencarnar, carregando consigo parte do seu Karma da vida passada. Isso explicaria variados casos como o de crianças que nascem com enfermidades (e diversos outros).

Busquei focar nas aplicações práticas do Karma e não entrar em explicações que dependam de uma crença no sobrenatural ou em reencarnações. Dito isso, acho importante ressaltar a minha parcialidade. Eu acredito que somos seres espirituais tendo uma experiência terrena, acredito que reencarnamos diversas vezes e que a cada jornada temos a oportunidade de prosseguir com os aprendizados, e que trazemos conosco a memória de algumas ações, como um Karma passado – que pode ser “positivo” e “negativo”. Positivo E negativo, pois ninguém realizou apenas ações positivas ou negativas. 

Acredito também que essa crença pode turvar a nossa visão, pode fomentar um excesso de orgulho ou inveja, raiva ou vaidade, de acordo com a análise, quase sempre parcial, incompleta e tendenciosa que cada um costuma fazer da própria história. O que importa no final é o ganho marginal, a diferença de onde estou para onde quero ir. Se eu nasci com uma enfermidade ou com a “bunda pra lua”, importa menos do que como eu ajo a partir disso. 

O sistema de castas na Índia é o exemplo vivo de como as pessoas se deixaram levar pelos conceitos de vidas passadas, e o orgulho criou raízes por séculos nas castas mais altas, que tinham a certeza de serem superiores, senão, não teriam nascido ali. Essa crença alimentou o distanciamento, o preconceito, o orgulho e em muitos casos o desprezo e ódio pelos vistos como “inferiores”. Nada poderia ser mais danoso à mente humana do que se acreditar superior ao outro, especialmente quando a explicação está perdida no véu do esquecimento – em vidas passadas – e não pode ser contestada racionalmente.

Acredito que a visão de renascimento pode explicar sim alguns casos. Muitos livros espíritas contam de pessoas que escolheram, pediram para nascer com uma enfermidade, por exemplo, para viver essa experiência, por terem elas sido algozes no passado. Mas cada caso é um caso, e existem milhares de motivos diferentes para algo acontecer. Não nos cabe julgar a consequência sem ter acesso à causa. 

E não digo que essa é a única explicação, e nem que essa crença seja necessária ou decorrente do conceito do Karma. Se o assunto te estimula a curiosidade, sugiro um estudo mais aprofundado (pessoalmente gosto muito dos livros do Chico Xavier, a começar pelo “Nosso Lar”).  

Por ora, me cabe dizer que para as suas questões, desde o emprego que busca, a uma relação mais fluida com o marido/esposa, chefe/colegas de trabalho, a vontade de ter mais sorte na vida, bons momentos, diversão, beleza, isso tudo pode ser conquistado com um foco em ajudar os outros. Não importa o que você fez na outra vida, se é que ela existe, importa sim o que você decide fazer nessa. Você cria o seu Karma a cada instante, a cada decisão.

Cada um colhe o que planta.

;D

Livro Gestão Kármica

Escrever este livro foi uma jornada. É algo que eu desejo há muito tempo, mas tinha travas e medos, especialmente em me vender, em falar de assuntos mais pessoais, em me colocar vulnerável. Foi uma caminhada. Eu comecei a escrever esse livro há mais de 10 anos atrás. Avancei, parei, retomei, parei de novo. Em 2023 eu realmente mergulhei nele. A vantagem de demorar tanto foi que eu tinha mais experiências, mais casos para contar, e também estava mais confiante por ver os resultados em mais pessoas ao longo do tempo. 

Reescrevi o livro todo, enviei para amigos que toparam ser os “leitores beta”, testando a forma e pedindo também comentários sobre partes confusas ou mal escritas, erros de gramática e etc. Editei, meu plano sempre foi lançar como um ebook, pela facilidade em não depender de uma editora, eu posso self-publish na Amazon, e porque eu amo ler no Kindle e me agrada a ideia de conseguir fazer o lançamento de forma independente. 

Não me entendam mal, eu adoraria ter uma editora interessada no livro. Inclusive, meu objetivo hoje é ter o livro em livrarias e para isso eu talvez tenha que ir com alguma editora. É que adicionar a etapa de buscar, e provavelmente ser rejeitado por, diversas editoras, que inclusive passam a ter o controle total do seu livro, podendo decidir não fazer uma tiragem ou descontinuar o livro, era algo que eu preferia evitar. 

A capa do livro foi outra parte divertida. Eu tinha uma ideia inicial, mas (felizmente) o amigo ilustrador que eu ia contratar estava indisponível, e como as ferramentas de Inteligência Artificial visual estavam rolando, eu quis testar com o Midjourney. Foi como ter uma agência de design extremamente eficiente à minha disposição. Testei mais de 200 imagens, fui por caminhos bem diferentes, mas no final cheguei numa capa que me deixou bem feliz. É minimalista, a silhueta de uma flor de lótus num fundo azul marinho. Gostei por ser um símbolo que posso usar nos próximos livros e cursos, pode virar tipo uma logo minha, e eu gostei de ser algo criado com Inteligência Artificial. Fiquei alguns dias aprendendo a usar os comandos, iterando muito em cada imagem, mas fiquei muito feliz com o resultado final. Fiz uma enquete com 4 variações da capa, e escolhi a mais votada. 

O lançamento do livro foi por uma campanha na Benfeitoria, plataforma de crowdfunding. Foi um sucesso, mesmo eu sendo bem envergonhado em divulgar e falar para as pessoas. Agora o próximo passo é aprender a vender online. Isso me estimula bastante. Entendi que a minha trava não é exatamente em me vender. É em convencer pela culpa. Tinha a mesma questão quando eu fazia uma peça de improviso que criei com amigos. Fizemos 4 temporadas, e como éramos apenas 5 atores, a gente tinha que chamar o público, convidar as pessoas uma a uma. E eu via muitas vezes os amigos chamando pela culpa, tipo “você não foi me ver ainda? Vai lá, dia tal..”. Eu odiava isso. Porque eu sempre detestei fazer qualquer coisa por culpa, nunca gosto quando tentam fazer isso comigo, e nunca fiz com os outros.

Minha postura era outra, eu dizia que estava em cartaz e mudava logo de assunto. Se a pessoa perguntasse mais ou quisesse saber, ai eu dizia o local e horário. Mas nunca pedi pra ninguém ir, nunca deixei ninguém mal por não ter ido. E tenho a mesma postura com o livro. 

Eu entendi que quero que as pessoas comprem e leiam por se interessarem pelo assunto. Lógico que no começo é importante o maior número de pessoas ler, para ter uma massa crítica inicial, aumentar a chance de alguém comentar com outro alguém e rolar o boca-a-boca. Por exemplo, semana passada eu recebi uma mensagem de uma pessoa que estava sentada do lado de alguém que lia o meu livro no avião, achou o assunto legal, viu meu nome e foi pesquisar onde comprar. Como não encontrou ela me achou no instagram e mandou uma mensagem. Achei super legal e mandei o livro pra ela. 

Uma campanha de crowdfunding de quem não é famoso, como eu, só acontece com amigos e familiares mesmo. Mas foi muito importante entender que a minha questão é basicamente com a motivação pela culpa e não com o me vender. 

Eu gosto da ideia de criar bons anúncios, acho que tenho um bom potencial nessa área, e entendo que essa é a habilidade mais importante para eu desenvolver agora. Quero criar vários produtos para vender online, todos na linha de conhecimento e informação: outros livros que já estou escrevendo, cursos e mentorias. Estou começando a gravar um curso de Gestão Kármica inclusive, pois sei que muitas pessoas ficam mais à vontade assistindo uma vídeo-aula do que lendo um livro. 

Então a campanha foi para coletar fundos para esse marketing. Estou fazendo alguns cursos para aprender a mexer nas ferramentas do google Ads e Meta, lendo os livros dos experts no assunto e to bem animado com essa fase nova. Consegui 3 mil reais com a campanha, que eu sei que é pouco, mas pra mim foi um sucesso. Com isso imprimi algumas cópias físicas do livro, que enviei para todos os apoiadores e ainda fiquei com algumas para vender – muita gente ainda prefere o livro físico. E o resto do dinheiro vou usar para ir testando anúncios e aprendendo na prática como ser um vendedor de sucesso online (junto com um investimento meu). 

Nesse livro eu tentei passar tudo que sei sobre o assunto, dar todos os exemplos e explicar o passo-a-passo dessa ferramenta que realmente acho fenomenal, uma ideia que de fato muda a vida de cada um para melhor. 

Eu me impressionei diversas vezes ao longo dos anos em como o Karma como filosofia e visão de mundo explica muita coisa. Ele encaixa com tudo que eu acredito. O conceito é que tudo que você faz volta para você. E especificamente, que a essência da intenção é o que te marca. Semelhante gera semelhante. A intenção de uma ação de ajudar alguém a encontrar uma casa, por exemplo, volta dessa forma. O seu Karma por conta disso vai ser relativo a encontrar ou ter um lar. Isso que explica tanta coisa. Como porque um político corrupto tem uma vida boa, ou como a minha tia que é sempre tão generosa pode ter um problema com o vizinho. Cada ação a cada momento gera um Karma diferente. 

Mas o mais impressionante, pra mim, foi notar como eu fui me tornando uma pessoa mais atenciosa. Eu sempre quis, há muito tempo que eu entendi que era egoísta demais, focado demais em mim e que não era assim que queria ser. Mas mudar é difícil, demora, eu notei avanços em alguns pontos em momentos específicos, mas no geral era algo que acontecia em segundo plano, nunca uma prioridade real.

Com o Karma eu me peguei ajudando os outros, pontualmente no início, para plantar algo que eu queria, mas isso foi se tornando cada mais normal, mais automático. Me notei não respondendo de forma agressiva em alguns casos para não criar o Karma negativo em mim, pensava “eu quero mesmo ter esse Karma pra mim no futuro por causa disso?”. 

Há uma beleza na simplicidade do Karma, em cada um ter exatamente o que faz, é uma solução elegante. Especialmente pois ela é neutra de julgamentos. Você receber de volta o que fez não diz se isso é bom ou ruim. Não tem uma entidade me premiando ou punindo, é um eco, uma energia que retorna e pronto. Se eu quero abundância financeira e acho isso bom, é isso que planto e isso que colho, mas em nenhum momento o Karma faz qualquer tipo de julgamento sobre o conteúdo das ações. Ele não diz se algo é bom ou ruim, apenas retorna o que você envia.

Eu sigo me surpreendendo com a Gestão Kármica, e fico preocupado em sempre deixar claro a importância de não confundir o mensageiro com a mensagem. Eu tenho milhões de falhas e não quero que elas entrem na frente de alguém querendo aprender sobre o assunto. É normal seguirmos o exemplo de quem ensina, e esse foi outro ponto que por muito tempo me travou em publicar o livro. Não acho que eu sou o garoto propaganda da Gestão Kármica, e sinceramente não quero ser. Mas não vejo ninguém mais falando disso, e percebo muito valor mesmo em quanto esse assunto pode influenciar e mudar a vida de muita gente, então estou muito feliz com o livro, com o resultado final. 

No livro eu começo explicando o que é o Karma, os conceitos de Sementes Mentais e Vacuidade. Falos dos 4 passos para conseguir o que se deseja – que é basicamente definir o que você quer, encontrar uma pessoa (ou várias) que queiram a mesma coisa, em essência, e ajudar essa pessoa. 

Falo também dos 4 passos para enfraquecer um Karma negativo, que em geral é fazer o oposto do que você fez. Então se você roubou alguém, vai ter que devolver ou doar bens para outros, ajudar no sentido oposto ao que você atrapalhou. Essa é a ideia. 

Explico mais a fundo como podemos ter uma leitura errada do Karma ao observar os outros, a aparente incoerência de pessoas “más” com uma vida boa e vice versa. Falo do lugar do sofrimento na nossa vida, e do perigo da postura de justiceiros, de pessoas que usam o conceito do Karma para racionalizar o sofrimento alheio e se eximir de ajudar o outro (ou até ativamente punir). Dou inúmeros exemplos de como eu usei a Gestão Kármica especificamente para curar uma doença, conseguir e crescer nos empregos, conseguir um carro, uma namorada, como diversos clientes usaram em casos particulares, todos à título de exemplo, de mostrar como é simples colocar em prática e ter resultados logo. Busquei dar muitos exemplos pois sempre acho que torna a leitura mais fácil também, mais gostosa e didática mesmo.

Eu espero muito que em breve o livro esteja disponível nas livrarias. Por enquanto, ele está na versão ebook na loja da Amazon (https://shorturl.at/dmGS5), e se você quiser uma cópia física me mande uma mensagem com o seu endereço (fmoitta@gmail.com). Se eu não tiver uma no momento, te coloco na lista de espera para a próxima tiragem e envio pelo correio quando sair.

Todo mundo é único, mas ninguém é insubstituível

Todo mundo é único, mas ninguém é insubstituível.

Essa frase brotou na minha cabeça do nada. Veio assim tão pronta que eu achei que já tivesse lido em algum lugar, que fosse uma citação e eu só não lembrasse de quem, mas fui pesquisar e vi que não. Fiquei um pouco surpreso, e comecei a analisar de onde veio, o que eu queria dizer com isso. 

Todo mundo é único. Sim, isso é óbvio, sei há muito tempo. Mesmo gêmeos idênticos têm experiências diferentes. Cada pessoa observa a realidade do seu ponto de vista. Lembro da primeira vez que vi neve, meu pai pegou um floco na luva e colocou perto do meu rosto pra eu ver os detalhes. Era lindo. Ele disse então algo que me marcou muito na hora. Falou que não haviam dois flocos iguais, que cada um tinha um padrão único. Que de todos os flocos caindo, os que já tinham caído e os que iam cair, cada um era diferente dos outros todos.

Eu achei aquilo loucura, como ele podia saber? Estava uma nevasca, milhões de flocos caindo, ventando em todas as direções, alguém tinha pego um por um pra conferir? Como ele podia dizer que não tinha dois iguais? Não fazia sentido. Levei muito tempo pra entender a matemática por trás, como pode a água cristalizar com tantos padrões diferentes. E é isso mesmo.

Pro ser humano é mais fácil notar a unicidade de cada um, e por um tempo meu ego se inflava ao pensar que eu sou único, só eu sou assim, não tem nem nunca vai ter outro como eu. 

Mas depois o “ninguém é insubstituível” é um tapa na cara. Derruba tudo que o ego montou. Como assim? Eu não era único? Como que alguém vai me substituir? Quem?

Acho que esse paradoxo aparente me incomodava, sem eu nunca ter expressado assim tão claramente. E à luz dá pra ver melhor como não é nenhum paradoxo. Existem muitos caminhos pra se chegar a um mesmo lugar. Falando de ego, por exemplo, o meu se mostra muito nos relacionamentos. Lembro de um término particularmente dolorido que tive, o maior pé na bunda que já levei. Depois de dois meses teve um dia que, antes de dormir, eu notei levemente assustado que tinha sido o primeiro dia que eu tinha passado inteiro sem pensar nela. Fiquei feliz e triste. 

Enquanto eu estava obcecado por essa mulher, o “todo mundo é único” era um soco na boca do estômago. Nunca vou encontrar outra como a Ana, nenhuma vai ser que nem ela. E a dor, o sofrimento, a capacidade de ficar autocentrado por horas devaneando cenários e situações loucas pra me absorver e perder mais e mais naquilo. 

E o tempo seguiu. Conheci e me apaixonei por outra pessoa, pude voltar a encontrar a Ana e ficar bem (bem depois), não me afetar por ela, seguir como amigo. 

O tempo é esse remédio irritantemente lento e eficaz. Conheci outras pessoas, não esqueci, mas superei a Ana, parei de sofrer, de pensar. 

A Bia me fazia tão bem, estava tão apaixonado, e novamente o medo de perder mostrava sua cara sebosa em alguma esquina do meu subconsciente. E se ela se for? Como vai ser? Só ela me faz sentir assim, nunca vou encontrar outra igual. 

E não. Nem eu nem você, ninguém vai encontrar uma pessoa igual. Mesmo se você ficar com uma mesma pessoa a vida inteira, ainda assim você vai ter vários relacionamentos, com pessoas “diferentes”, pois as pessoas mudam. Já dizia o sábio chinês, um homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes. O rio muda a cada instante e não já é mais o mesmo, e tampouco é o mesmo o homem.

Ninguém é insubstituível pois diferentes equações resolvem o mesmo problema. Há diversas trilhas para o topo da montanha, e novas podem ser criadas. Só eu vou fazer as coisas do meu jeito, só o Jack Nicholson fez o Coringa do jeito dele. Sim. E o que ele fez está lá, ele viveu aquele momento, e ele passou. Depois outros vieram e fizeram diferente. Melhor pra uns, pior pra outros. Cada um inegavelmente único. Todos substituíveis. Isso não diminui o valor de cada um, mostra e explica que somos e temos infinito potencial. 

As pessoas mudam, a gente muda, as situações mudam. As funções que os amigos cumpriam seguem sendo cumpridas. Eu sigo rindo, viajando, conversando, chorando. Mas não com as mesmas pessoas, não com aquele grupo. Alguns se mantém, outros vêm e vão. Alguns passaram a rir menos e a chorar mais. A vida de cada segue com seus momentos, todos únicos, todos mutáveis e dinâmicos. 

A sua jornada na vida é única, e é sua. Você que vai decidir como ela vai se desdobrar, o quanto e como você vai impactar e ser impactado. O fato de ser única te presenteia com um potencial incrível, e o fato de não ser insubstituível te dá humildade e te liberta pra seguir o caminho que quiser. Quem colhe os louros dos acertos e as dores dos erros é você mesmo.

Não-monogamia para monogâmicos e não-monogâmicos

Quais os seus objetivos com um relacionamento?

Essa pergunta simples é a base de tudo. A monogamia surgiu com uma solução, ela cumpre uma função. E, spoiler alert, não é gerar felicidade. É como uma ferramenta. O martelo foi criado pra cumprir uma função, que é pregar. Isso ele faz muito bem. Quando você tenta usar pra outra coisa, como aparafusar por exemplo, vai acabar se frustrando e gerando problemas. Entender qual problema cada solução resolve é fundamental. Senão você acaba com um martelo pra aparafusar algo e sem entender porque estragou o parafuso e o martelo. 

Vejamos o casamento monogâmico. Qual o problema que esse casamento resolve?

É uma solução para problemas da sociedade feudal. Ela garante a hereditariedade da família e assim a transmissão da propriedade, das terras e bens. Ela cria uma unidade familiar com uma divisão de trabalho bem estruturada, até recentemente era o homem trabalhando (no campo ou fábrica) e a mulher em casa cuidando dos filhos e tarefas domésticas. Ele resolve o problema de quem herda o que, de quem faz o que e gera estabilidade e controle societário, em alguma medida.

O casamento foi uma solução para problemas diplomáticos por muito tempo. Ele gera a união de famílias, tribos, clãs e estados. O casamento (como expressão última da monogamia) foi talvez uma das principais ferramentas políticas ao lado do ato da guerra. Internamente ele gera também uma sensação de segurança e estabilidade, é uma ferramenta galgada no medo da solidão, e foi adotada pela igreja como forma de controle e ordem social. 

É bem simples. Quem está casado está encaminhado para seguir servindo à sociedade ao criar sua família e quem ainda não namora sofre a pressão de seguir esse caminho o quanto antes, ou sofrer as consequências – e ser julgada pelos demais membros da tribo. 

Os tempos e circunstâncias mudaram, mas as normas sociais demoram a se atualizar. A mulher já é muito mais independente do homem social e financeiramente, o sexo é feito em sua maior parte por prazer e não para reprodução, outras estruturas de vida familiar e profissional já são viáveis. 

A maioria dos votos de casamento mostram que ainda vemos o parceiro como “tudo”. O melhor amigo, companheiro de viagem, pessoa pra te satisfazer sexualmente, com quem ver filmes, praticar esportes, decidir quanto dinheiro gastar e quanto economizar, como criar os filhos, etc, etc. É um fardo pesado de expectativa sobre o outro. 

Hoje buscamos felicidade em uma solução que não foi feita para priorizar isso. É como querer um jantar romântico, elegante à luz de velas no McDonald ‘s. Esse lugar não foi feito pra isso. Ele foi desenvolvido pra fornecer uma refeição rápida, saborosa e com um baixo custo. Tudo nele tem isso em mente. Se é isso que você quer, essa solução se encaixa. Se não é, a chance de insatisfação é bem grande. Não use uma furadeira pra pregar um prego. Vai estragar o prego e a furadeira. 

Monogamia e casamento não são a mesma coisa, mas estão intimamente ligados. O casamento é a expressão última da monogamia, seu ápice, e todo relacionamento monogâmico vive à sua sombra. Um namoro que dá certo é o que segue a jornada para o casamento, e se termina antes foi um “fracasso”, “não deu certo”. Mesmo na fase de namoro ele já segue, em menor intensidade, todas as premissas que o casamento virá a seguir – a expectativa de exclusividade, não só do sexo, mas da atenção, do desejo, do amor, os ciúmes e posse, o pacote completo.

Se a sua expectativa em uma relação monogâmica é “viver felizes para sempre”, a frustração será uma inesperada visita que poderá ficar por um tempo indeterminado. 

A proposta do relacionamento aberto, e existem dezenas se não centenas de formas diferentes de se relacionar dentro do guarda-chuva “não-monogâmico”, é montar algo com a (ou as) pessoas do relacionamento que satisfaça ao máximo possível as vontades de cada um. 

Um primeiro obstáculo perigosíssimo é o estado mental de competição. É uma egotrip na qual a grande maioria das pessoas embarca. Quando você fica, transa, se relaciona com alguém “só porque” o seu namorado está com alguém. Pode ser de raiva, pra dar o troco, pode ser só pra se sentir desejada, pra fugir do tédio, pra tirar a cabeça do ciúmes. Existem vários motivos. Todos, TODOS levam a um estado pior que o anterior. Não resolve nada e acaba fazendo mais mal do que bem, mais cedo ou mais tarde. 

Não tem como ganhar no jogo da competição num relacionamento. Como disse nossa ex-presidente, “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. O único jeito é não jogar esse jogo. 

Parte do problema é VOCÊ, e como você vê o problema. Parte de todo problema é como você percebe esse problema. “Dar o troco”, por exemplo, é assumir e afirmar pelas suas ações, mais uma vez, que o sexo ou a troca afetiva é algo que a pessoa “perde”, em geral a mulher, que ela se desvaloriza de alguma forma. Valida a ideia da posse pelo outro. Posse essa da qual você tem algum controle, sim, e pode escolher “tirar dele” pra dar a outro. Como um objeto, que se eu estou com raiva de como você me tratou, empresto seu carro pra alguém, e você fica sem. 

A diferença é que o carro não tem sentimentos sobre como é usado. O dono pode ter ciúmes e se incomodar, mas o carro não. E nessa analogia, o carro é você. Mesmo que tenha prazer, o ponto aqui são as “verdades” inconscientes sobre a monogamia que você está validando fortemente, especialmente a da posse. Ao ficar com alguém pra competir com o parceiro, você está usando a si mesmo e ao ficante, está dizendo que sim, você é uma posse dele, está afirmando que o seu valor vêm, ao menos em parte, pela validação externa, pelos outros, e quem tem mais ‘outros’ no histórico é o melhor. Isso é completamente autodestrutivo. 

A premissa principal de um relacionamento aberto é a liberdade e independência de cada pessoa. A vida de cada pessoa é dela, e estar junto com outro, por quanto tempo for, é uma escolha que é feita conscientemente e repetidas vezes. Outra premissa é que desejamos o melhor ao outro. Que ele ou ela tenha a vida mais feliz que puder. Enquanto nossos caminhos estiverem juntos e fizermos bem um para o outro, ótimo, faz sentido estar juntos. Nada mais. 

O ser humano é dinâmico, volátil, a única constante real no universo é a mudança (e a velocidade da luz). Você não é o mesmo que foi há 10 anos atrás, 5 anos, nem 5 minutos atrás. E não vai ser o mesmo no futuro. Suas vontades vão mudar, algumas vão se manter, mas as circunstâncias vão mudar, e isso é ao menos em parte assustador. Buscamos segurança, estabilidade, e aceitamos ilusões onde a verdade é assustadora ou dolorida demais. 

Essa troca da realidade pelo placebo da ilusão é vendida à prestação, mas os juros são altos e a conta sempre chega no final. 

Mais de 50%, em alguns lugares 70% dos casamentos terminam em divórcio. É uma taxa de sucesso ridícula, pra quem entende o divórcio como um “fracasso” do casamento. Mais assustador é a quantidade de casais infelizes que se mantém dentro do casamento, infelizes especificamente por causa do casamento, com índices surreais de abuso doméstico, violência verbal, física, pessoas que vivem diariamente em ambientes tóxicos. Esse é o verdadeiro fracasso. E por mais que cada caso seja um caso, as estatísticas mostram que a instituição do casamento, como via de regra, não gera felicidade pra maioria das pessoas no longo prazo.

Essa verdade é dolorida. É inconveniente, e vai na contra-mão de tantas “verdades” que fomos adestrados à internalizar. Pois a ilusão que nos é vendida é da segurança do casamento, da certeza da estabilidade da vida familiar, do “felizes para sempre” ao final de cada conto de fadas. Mesmo todo mundo sabendo que a traição pelos homens e mulheres sempre existiu e está hoje mais viva que nunca, que os divórcios são sempre uma opção, que tudo pode terminar, ainda alimentamos essa ilusão de “segurança e estabilidade” no casamento. 

O relacionamento aberto é uma busca por uma forma mais honesta de se relacionar, e de se viver. Ele aceita a premissa de que o ser humano é um ser volátil e que os desejos por outra pessoa são naturais. Nem todo desejo precisa ser realizado, mas uma segunda premissa do relacionamento aberto é que o sexo, ou a troca afetiva, não é intrinsicamente ruim. Muito pelo contrário, ela naturalmente pode ser abusada como tantas coisas, mas tem o potencial de ser algo extremamente satisfatório, prazeroso e saudável. 

Ter uma auto-imagem positiva é importante? Sim. Tem gente que exagera, vira narcisista, anoréxica, bulímica, obesa, viciada em cirurgia plástica e tantas outras versões? Claro. Isso quer dizer que não se deve buscar uma relação saudável consigo mesmo então? Como sempre, a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. A sexualidade pode e já foi muito abusada inúmeras vezes, mas há uma forma saudável de viver e expressá-la, e isso pode acontecer num relacionamento fechado ou aberto. 

A troca afetiva nos chega cheia de tabus depois de séculos de imposição de culpa pela igreja, de uma forma realmente inconsciente, que nos é alimentada por meio de filmes, músicas, histórias e tudo o mais. Há quem busque o sexo de uma forma egóica, desequilibrada, quem queira se validar, quem use pra ter poder e etc. Mas isso significa que o sexo em sí é ruim? Ou que não tenha uma forma saudável e extremamente positiva de viver essa experiência?

Se livrar do tabu do sexo e da troca afetiva como algo negativo é um passo essencial. O seguinte é se livrar da ideia de posse sobre outra pessoa. A escravidão acabou mas esse conceito de posse do outro vive escondido e mascarado nas relações afetivas. Até pouco tempo o homem podia literalmente assassinar sua esposa pelo crime da traição. Não pra livrar o mundo de uma pessoa tão vil capaz de tal crime, mas pra reparar a sua honra, o seu ego, a sua imagem. Ela transar com outro é um problema pois diminui ele, ela era parte dele, uma parte estranhamento independente, então precisava ser controlada. O mundo ser machista é ele ter instituições machistas. 

Por anos pessoas machistas criaram regras oficiais e não-oficiais que colocaram a mulher abaixo do homem. Isso foi extremamente nocivo aos dois, tanto aos homens quanto às mulheres, de formas diferentes. Por isso diz-se que o mundo é machista. Não é só que ele contém pessoas com pensamentos e visões machistas (apesar de sim, ele conter), mas que as instituições e regras sociais machistas ainda perduram. 

Essa visão de posse na relação é profunda, afetando tanto homens quanto mulheres. Ainda é pra muita gente um sinal inofensivo de amor o fato da pessoa sentir ciúmes. “Só não sente um ciuminho quem não gosta do outro”. 

O sentimento de posse pelo outro não é saudável. Pode ser manejável em intensidades menores, mas é sempre algo que nasce de um desejo pelo controle do outro, da busca do domínio de certos sentimentos e emoções. 

A posse nasce do ciúmes, e o ciúmes nasce do egoísmo, não do amor.

Sentimos emoções boas e ruins, e nossa vida pode ser resumida pela busca de emoções prazerosas e pela fuga de emoções negativas. Do mais simples ao mais complexo ato de um ser humano, tudo é, em última instância, a busca pelo prazer e/ou a fuga da dor. 

Podemos fazer isso com maior ou menor eficiência, trocando um prazer agora por uma dor futura, e vice versa, mas é assim que agimos. Coisas e pessoas fazem parte das situações que nos geram prazer e dor. Eu como uma torta de chocolate, sinto prazer, e coloco energia em repetir essa experiência. Toda uma indústria existe e se mantém em função desse desejo. Eu consigo o controle do meu prazer ao controlar a torta.

Para a torta existir, estar disponível, acessível para me dar prazer, há de existir desde a indústria agropecuária que vai plantar, colher e tratar o cacau, até os mercados e lojas, as propagandas e entregadores que garantem que eu, como cliente, tenha acesso à sensação que eu tenho ao comer a tal torta de chocolate, o máximo possível, quando quiser. Eles me dão controle sobre a torta, para eu assim ter controle sobre o prazer. Não me dão, me vendem, e eu troco o poder que adquiri em forma de dinheiro por uma tentativa de ter um prazer em particular. Eu domino e controlo esse prazer.

A torta de chocolate, no entanto, não tem sentimentos, não tem opiniões sobre o meu desejo de controle, de tê-la à minha disposição quando eu quiser pra satisfazer o meu desejo. Se eu abuso da torta, quem sofre sou apenas eu. 

Pessoas não são assim. Se eu tenho prazer em estar com você de uma forma, e eu começo a tentar te controlar, pra garantir que vou ter essas sensações de novo, quando eu quiser, isso pode funcionar enquanto o seu desejo for esse também. Mas sendo um ser independente e com vontades próprias, eventualmente nossas vontades estarão desalinhadas, e aí começam os problemas. Você deixa de estar disponível, como a torta, e eu busco te controlar. 

A gente gosta de repetir um prazer. Como você tem sentimentos a respeito de como eu lido com você, a busca pelo controle sobre o outro gera muitas consequências. Entender e aceitar que o outro é um ser independente e que, por mais que estar junto possa ser bom, que façam-se planos de seguir assim e tudo o mais, as coisas podem mudar. Ter um relacionamento aberto saudável, autêntico, é necessariamente aceitar a imprevisibilidade da vida, o inerente estado de incerteza que é a condição humana. Tudo pode mudar, sempre. Tudo muda, sempre. 

Eu desejo que todas as pessoas tenham a melhor vida possível. Com o máximo de prazer e o mínimo de dor. Se eu gosto de alguém, mais ainda. Se eu entendo trocas afetivas como uma importante forma de prazer, de crescimento, como experiências incrivelmente válidas, é natural que eu vá desejar isso ao outro. 

Ah, mas precisa ser o tempo todo? Não pode ser só comigo, pelo menos por um tempo?
Tudo pode, não existem regras escritas em pedra. O importante é entender de onde vêm os seus desejos. São motivados pelo medo ou pela busca por uma ilusão que esconde um medo? São expressões autênticas de um desejo, são coerentes com quem você quer ser?

Existem milhares de situações, detalhes práticos, logísticos, menores e maiores que vão gerar atritos em qualquer relacionamento. Um relacionamento aberto além de todos, ou a maioria, dos atritos que conhecemos da monogamia, ainda somam os de ter outras relações em paralelo. Mesmo sem ciúmes haveriam questões, e com o ciúmes, posse, medo da perda, competição e etc essas questões podem virar montanhas insuperáveis. 

A forma de lidar com isso, uma forma ao menos, é alinhar expectativas e começar pela primeira pergunta desse texto. Qual o seu objetivo com esse relacionamento? O que você quer dele, o que espera?

E o que significa isso que você respondeu? O que é exatamente pra você “ser amada”, ou “estar com alguém que me prioriza”? 

Essas respostas amplas são códigos, são imagens mentais bem particulares. Muitas vezes não está nem claro pra pessoa que respondeu. Isso vale até pra amizade também. O que você espera dos seus amigos? 


“Tenho amigas que são ótimas pra segurar a minha barra quando meu pai está com câncer, mas jamais sairiam comigo para dançar e badalar (“ai, odeio lugar escuro, apertado, música alta! deus me livre!”).

Tenho amigas que não aguentam um minuto de conversa sobre câncer (“vira essa boca pra lá, falar sobre isso atrai, quero viver!”) mas são as melhores companheiras para sair, dançar, beber, badalar.

Tenho amigas que me visitam sempre, mas que jamais me convidaram para conhecer suas casas (“minha casa é um santuário, sabe? me sinto invadida quando recebo visitas.”)

Tenho amigas que nunca me visitaram (“perdão, tenho um prazo estourando, tô com a minha filha hoje, não vai dar pra sair”), mas que sempre me recebem em suas casas para dias deliciosos de conversa e coworking.” (trecho do texto ‘Esperando pela amizade perfeita’ do Alex Castro)

Saber especificamente quais são os seus desejos e expectativas com o outro não resolve nada, mas é um GIGANTESCO primeiro passo. Quando você sabe o que quer, é muito mais fácil encontrar. Quem procura acha. E vale ter muito clara a diferença entre o que eu quero e o que eu quero querer. Eu adoraria querer comer salada todo dia, mas hoje eu quero mesmo é torta de chocolate. Ok, eu posso querer mudar, me tornar o tipo de pessoa que nem quer tanto a torta, mas não se engane, não se iluda. Saiba quem você é e o que quer, e tenha uma visão REALISTA do quanto você consegue mudar. 

O relacionamento aberto não é uma panaceia, não é uma solução melhor ou superior, nem mais evoluída. Não se aplica a todos, e mesmo à quem se aplica, não é uma solução o tempo todo. Somos dinâmicos e mutáveis. Assim como a monogamia é sim uma solução pra muitas pessoas, ou pode ser. Um ponto importante e que faz muita diferença é ela ser vista e compreendida como uma opção. Apenas isso. Uma de várias opções. 


Você quer fazer exercícios? Tem a academia. Tem o crossfit. Pode correr, andar de bicicleta, jogar basquete, vôlei. Tem muitas opções. Seria ridículo dizer que apenas malhar é a única opção, que todo mundo tem que fazer isso. 

A monogamia é uma opção, e vai ser uma boa opção pra certas pessoas, certos casais em determinados momentos da sua vida. É parte do autoconhecimento se descobrir. Como você quer as suas relações? Como lida com o ciúme, com a posse, tanto sua quanto da pessoa com quem convive? Onde há distância entre o seu pensamento, seus valores e os seus sentimentos? Onde há hipocrisia nas sua ações?

A vida boa, uma vida que contém progresso, evolução, desenvolvimento pessoal, demanda reflexão. Demanda tentar, testar, aprender na prática, errar, voltar, corrigir o erro e tentar de novo. Demanda atitudes conscientes. Isso não quer dizer fazer ou aceitar o que te faz mal. Quer dizer tentar entender porque você quis aquilo, como te fez mal, como pode ser diferente e se você está disposta a mudar por isso, pra isso. 

Se a filosofia do relacionamento aberto ressoa em você, saiba que essa é uma jornada longa e cheia de obstáculos. Ela vai cobrar muita reflexão, muita honestidade. Há o obstáculo prático, logístico do dia-a-dia, há o ciúme, a posse, a comparação, o medo de ser abandonado, do outro ser melhor, a culpa por sentir coisas com as quais você discorda, a busca disfarçada e manipuladora por formas indiretas de controle, e tantas outras. Há muita ajuda também, pessoas que vivem esse tipo de relação e compartilham seus erros e acertos. 

Buscar viver uma vida mais honesta e cuidadosa com o outro pode ser mais desafiador, mas contém muitas recompensas também. A variedade das trocas, a riqueza das relações, a coerência em viver o que se acredita, e tantas mais. O relacionamento é uma tentativa de resolver o eterno dilema do solteiro ou casado. A vida de solteiro contém variedade, excitação, novidade, tesão. Mas não tem estabilidade ou segurança, não tem aprofundamento e trocas que dependem de longos anos. O casamento supostamente oferece a estabilidade, ou a ilusão dela, mas mesmo quando oferece, ele cobra na variedade. É difícil estar com a mesma pessoa a 10, 15, 20 anos e ainda ter tesão e excitação. O relacionamento aberto saudável busca equilibrar esses desejos. Mas isso não é fácil e existe muita margem pra erros. 

Não quero convencer ninguém a ter relacionamentos abertos, não busco converter monogâmicos nem nada disso. Quero compartilhar minhas experiências e mostrar de verdade que não só a monogamia é uma opção, evidenciar os pros e contras de cada opção disponível. Fazer uma escolha consciente só é possível em frente aos fatos. 

Duas dicas para um relacionamento aberto saudável:

1. Tenha projetos pessoais.

Pode ser trabalho, hobby, amizades, filmes, séries, outras pessoas, outras relações. Tenha outros focos, outros pilares na sua vida, coisas que você pode fazer sozinha e que te dão prazer, te instruem, te alimentam, te divertem, te distraem. 

Não quer dizer que são coisas/atividades que precisam estar sempre, necessariamente separadas do seu parceiro. Posso sair pra dançar como algo meu, mas um dia chamar minha namorada e curtir com ela também. 

A ideia é você ter coisas que você pode e gosta de fazer sem a pessoa. Em alguns momentos podem ser só uma distração mesmo. O melhor é ter uma rede de coisas. É muito mais fácil parar de pensar no date da seu namorado quando você ta realmente vivendo algo interessante do seu lado. Um projeto de longo prazo, um curso importante, coisas que realmente prendam a sua atenção, que te sejam positivas de diversas formas. 

2. Se prepare pra lidar com os obstáculos internos. 

Por mais evoluída que você seja, o ciúmes, raiva, rancor, essas e outras emoções vão aparecer em algum momento. Tenha uma expectativa alinhada do que vai vir e de como você quer, ou pode, agir. Eu descobri um lembrete de 3 pontos que uso quase como um mantra sempre que estou inseguro/mal/enciumado, etc. 

1. Ela não é, nem nunca foi ou será, minha. 

A vida dela é dela, não é minha. Ela faz o que quiser. Podemos estar junto em momentos, mas eu não posso perder o que nunca tive. Ela escolheu estar comigo em alguns momentos, e eu com ela, e enquanto isso for bom pros dois ótimo, mas é só isso. Eu quero que ela seja feliz e seja independente, e forte, e cresça, e etc. 

2. Eu sou foda. 

Eu tenho muito valor, tem muita gente que me admira, me deseja. (Não é forçar a barra aqui, mas sim lembrar sem se enganar ou mentir que sim, você tem muito a oferecer. Todo mundo tem defeitos, mas num momento de insegurança tendemos a ver o outro em cima e nós mesmo em baixo. Aqui é uma frase pra lembrar que você é sim foda, valiosa, inteligente, o que seja. Pense nas palavras que te impactam, que simbolizam o que você sabe que gosta em você mesma). 

3. Foco no que eu tenho. 

Como está a nossa relação quando estamos juntos? O que eu posso fazer de diferente pra mudar, melhorar? 

Eu quero que ela viva as melhores experiências que puder. Viva a vida que quiser. Isso inclui cometer erros e aprender com eles. As experiências incluem relações, sejam de amizade, de trabalho ou com trocas afetivas. É muito fácil focar no problema, no outro, na situação que eu não posso controlar. Quero focar em mim, no que eu quero, na minha relação com ela. Se está ótima, perfeito, curte o momento sozinho com outros projetos, hobbies e etc. Se está ruim ou pode melhorar, foca em fazer isso, não no que ela faz com outros. Não significa fechar o olho, mas saber quando um pensamento deixou de ser útil, cumpriu sua função e passou a ser uma visita indesejada. É hora de o convidar a se retirar (como? pensando em outra coisa é o que mais funciona. Ele volta as vezes, e ganha quem for mais persistente)

Essas 3 frases viraram mantras, âncoras que me relembram pontos importantes nos momentos de dúvida, insegurança ou carência. Há momentos que a insegurança está mais em uma coisa que em outra. Há momentos que eu to mais mal, então lembrar de como “eu sou foda” faz mais sentido. Em outros, é mais sobre pensar em como ela não é e nem eu quero que seja minha, que a nossa relação é uma decisão consciente de dois adultos que querem viver o melhor que podem, o que inclui mudar de ideia. Que tudo bem se viermos a terminar, o fim é apenas o fim, a morte faz parte da vida tanto quanto o nascimento, e que muito provavelmente ainda vamos seguir por um bom tempo, está tudo bem, foi apenas um date, ou um envolvimento, ou que seja. 

Há vezes que vale lembrar como tudo está bem, ou como o que temos tem valor e focar nisso, em ter mais momentos de qualidade, independente do resto. Um pouco de egoísmo pode ser útil. Ta bom pra você? Se sim, o que importa o que acontece sem você? Se é “só” o medo da perda, muitas vezes agindo em cima desse medo você cria a profecia que se auto-realiza. 

Pode acontecer um término, sempre pode. A grande maioria dos relacionamentos termina em algum momento por uma decisão de uma das partes. O ciúme e a posse não impedem que isso aconteça, muito pelo contrário, tendem a acelerar esse processo. Foque no que você pode controlar, em ter bons momentos com a pessoa, em curtir, em trocar.

Se os sentimentos negativos são fortes demais, talvez essa vida não seja pra você, pelo menos não por agora. E tudo bem. Quem sabe mais pra frente. Mas não fuja ao primeiro sinal de desconforto. Anos, séculos de programação social, tabus e regras moralistas não vão se dissolver facilmente. 


Eu acredito que a sua qualidade da sua vida vai ser extremamente influenciada pela qualidade dos seus relacionamentos, e que nesse quesito da sua vida, toda energia investida gera rendimentos milhares de vezes maior. 

Se relacionar de forma consciente é viver de forma consciente. Os relacionamentos, abertos ou fechados, são lentes de aumento que vão ampliar nossos traumas, medos e inseguranças. Você pode optar por fugir ou enfrentar de frente, mais uma vez, isso independe do estilo de relação que escolhe. Cada tipo cria um ambiente que força mais alguns pontos. O relacionamento fechado de longo prazo te força a se abnegar e dedicar a um outro em particular, enquanto o relacionamento aberto te força a lidar mais com o ciúme a posse, de maneira geral. 

Pode-se ser feliz em qualquer formato de relacionamento. Mas lembre que pra onde for, você se leva consigo. Irão juntos todos os seus problemas, conscientes e inconscientes. O relacionamento vai expor muitos deles. Cabe a você escolher como vai lidar com cada um. 

A possessividade é um egoísmo disfarçado de amor. A posse é o desejo pelo controle, pelo domínio. Algo em você sente que precisa disso, demanda isso, sente raiva do outro. Essas emoções e sentimentos são, em geral, inconscientes. São traumas antigos, questões que temos desde a infância, da relação com o pai, com a mãe, das rejeições que tivemos e as estratégias que usamos pra lidar com elas. 

Todo problema da relação é um reflexo de um problema pessoal de cada um. Todos temos problemas, em maior ou menor grau, todos temos questões mal resolvidas da infância e projetemos isso no outro, sem saber. 

O relacionamento aberto não resolve nada, ele tende a expor mais rapidamente alguns pontos que outros. Se você acredita que o sexo não é sujo ou errado, se deseja que as pessoas vivam as melhores experiências que podem, se quer ter uma relação mais honesta e transparente, com cooperação no lugar de competição, você pode sim iniciar essa jornada da não-monogamia.

Se não é o seu momento, tudo bem, os principais aprendizados de quem vive relacionamento abertos é o da comunicação. De ter escolhas conscientes, de buscar ouvir mais e aceitar a realidade do outro, de lidar menos com máscaras, de ter uma expectativa mais alinhada dos problemas e desafios que estão pela frente. 

Meu desejo sincero é que você seja feliz no relacionamento que escolher, inclusive se a escolha for ficar sozinha. Tudo é temporário nessa vida. 

;D

Como ter sonhos lúcidos

A primeira vez que eu ouvi falar de sonho lúcido eu fiquei maravilhado. Já tinha acontecido naturalmente comigo uma vez, e foi incrível, mas durou muito pouco. Saber que tinha como induzir esse estado era algo que eu nunca podia ter imaginado. 

Segui lendo e estudando o assunto, testei de tudo, e agora vou passar o que melhor funciona pra se ter sonhos lúcidos. 

Bom, antes de mais nada, sonho lúcido é, como diz o nome, um sonho no qual você, ainda sonhando, percebe que está dormindo. Nas primeiras vezes que eu percebi eu ficava tão animado que acabava acordando. Depois eu fui conseguindo durar cada vez mais, até que hoje eu na verdade tenho que fazer um grande esforço se eu quiser acordar. O que nunca aconteceu, e nem acho que aconteceria. Mesmo se o sonho é ruim, sabendo que é um sonho, não tem porque ter medo de nada, eu só saio voando por aí. 

Voar é a minha atividade favorita nos sonhos lúcidos. Inclusive, é o meu teste pra saber que eu to sonhando. Porque sim, o realismo do sonho é tão absoluto que muitas vezes dentro do mesmo sonho eu fico na dúvida se ainda é um sonho de fato. Ai eu paro, vôo um pouquinho, ou só flutuo, e assim tenho a certeza que é um sonho e sigo com as atitudes que eu certamente não teria na vida real. 

O sonho lúcido é, pra mim, o ultimate VR, é instalar um playstation na cabeça com resolução 100%, e todas as sensações são iguais, idênticas. O sabor da comida é o mesmo, o sexo é igual. E isso é curioso, eu percebi que só consigo ter as sensações que já conheço. Eu tive um sonho quando era mais novo no qual eu transava, e eu ainda não tinha tido essa experiência, e quando aconteceu no sonho eu não senti nada. Eu também nunca provei num sonho uma comida desconhecida, nunca senti um sabor novo. Talvez alguém consiga. Mas tudo que eu já conheço e tenho na memória é perfeito, tão perfeito que é normal eu ter que garantir que to sonhando algumas vezes ao longo do mesmo sonho. 

Então vamos lá, como fazer pra ter sonhos lúcidos?

De tudo que eu já testei, 3 passos de longe se mostraram a melhor estratégia. O primeiro, que inclusive vai te ajudar a lembrar mais dos sonhos, é ter um diário de sonhos. Você não precisa manter isso pra sempre, mas no começo é importante. Deixa um caderno do lado da cama, e cria o hábito de acordar e, as vezes antes mesmo de abrir o olho, você pega e vai escrevendo o que lembra do sonho. 

Em relativamente pouco tempo você vai se perceber lembrando mais e mais dos sonhos. Não só vai lembrar mais vezes do que sonhou, pra quem não tinha esse costume, como vai lembrar de mais conteúdo de cada sonho. Fim de semana ou dias que você não tem hora pra acordar vale a pena ficar relembrando o máximo que conseguir, e escrever, ou até gravar. O ideal é ter um gravador mesmo. As vezes o ato de abrir o celular pra gravar já te desperta, você acaba vendo alguma notificação e seu cérebro entra em outro modo, por isso que escrever acaba sendo melhor, mas um gravador funciona bem também se você tiver. (eu evitaria usar o gravador do celular por conta das notificações e luminosidade alta)

Algumas vezes quando você está com muito sono e vai tentar lembrar o sonho você acaba dormindo de novo, então é importante saber disso pra não perder a hora. Eu colocava 2 despertadores pra ter esse tempo entre eles de lembrar o sonho sem risco. 

Faça isso por pelo menos um mês pra ver como é. 

O 2o passo é o de revisar o dia antes de dormir. 

Eu percebi que isso funciona ainda melhor quando você revisa o dia de trás pra frente. Você deita na cama e vai pensando o que fez antes, e antes, e antes, e assim passa o dia todo até o momento que acordou. Pois uma das funções do sonho, segundo alguns especialistas, é reviver ou mostrar coisas que você não deu a devida atenção. A arte de interpretar sonhos é outra que é bem interessante, mas é assunto pra outro momento. 

Então ao repassar o seu dia, relembrar ele antes de dormir, você libera o seu subconsciente dessa função, você revê qualquer coisa que te marcou, pensa no que você não teve tempo de pensar ou absorver melhor ao longo do dia, e isso tende a te liberar pra ter o sonho que quiser. 

A 3a coisa a se fazer é decidir ter o sonho lúcido, se dar esse comando mesmo. Um passo antes que ajuda bastante e é igualmente divertido, mesmo que menos que o sonho lúcido completo, é decidir com o que quer sonhar. Vale praticar por um tempo, antes de dormir você revisa o seu dia e diz algumas vezes a si mesmo com o que quer sonhar.
Não precisa ser o sonho completo, apenas algo que você queira, um elemento que quer ver no sonho. Por exemplo, diga “eu quero sonhar hoje com um navio pirata”. Se dê esse comando algumas noites, fazendo a revisão antes e mantendo o diário de sonhos. Com o tempo você vai conseguindo inserir elementos mais e mais complexos. 

O mesmo vale pro sonho lúcido. Você diz a si mesmo que quer perceber que está sonhando durando o sonho, ao longo do dia mas principalmente logo antes de dormir. 

Outras coisas que ajudam muito são dicas de um sono saudável no geral, como ter uma rotina. O seu corpo sempre funciona melhor com uma rotina, e eu sei que muitas vezes não dá pra ir deitar na mesma hora sempre, mas esse é um dos maiores fatores pra uma boa qualidade do sono. Rotina e horas dormidas. Tente valorizar o tempo dormido, ter as 8 horas de sono por noite, e o clássico de evitar estímulos fortes antes de dormir, drogas ou álcool e etc.

Respeitar o momento do sono, ter o ritual do preparo, tudo isso facilita a sua relação com o sonho. Mas não é necessariamente algo que você precisa fazer sempre. Eu tive períodos em que estava com esse foco então cuidei bem disso, e tive muitos sonhos lúcidos, com consistência. Em outros momentos de vida acabei deixando mais de lado, mas a vantagem é que você pode sempre retomar a qualquer momento. 

Existem outras dicas que na minha opinião não valem a pena pelo custo X benefício. Por exemplo algumas pessoas criam gatilhos pra testar se estão sonhando. Algo que aconteça com frequência, como por exemplo, toda vez que a pessoa passa por uma porta ela testa se está sonhando. A lógica é que se esse comportamento ficar tão automático você vai acabar lembrando dele no sonho, e vira uma forma de você descobrir que está sonhando.

Eu já vi algumas pessoas dizendo que funcionou, mas pra mim o custo de você ficar o dia inteiro lembrando disso não me agrada. Mas caso você ache interessante, vale a pena. 

Sobre como testar se você está sonhando, eu já vi muita coisa que não funcionou comigo. Já li sobre tentar passar o dedo pela mão, não aconteceu comigo, sobre olhar pra uma frase ou número e depois olhar de novo, pois ela muda. De fato isso é verdade, mas muitas vezes eu to num ambiente sem frases ou números. Voar pra mim é o teste perfeito. Não só porque ele não deixa dúvidas de que eu to sonhando, como é algo que eu gosto de fazer.
Outro que também é situacional é respirar em baixo dágua. No sonho você sempre consegue respirar se tentar, mesmo se tampar o próprio nariz, então pode ser um bom teste. 

Como em tudo, vale a pena você ir testando e vendo o que funciona melhor pra você. 

Se você tem outras formas de ter sonhos lúcidos escreve aqui que eu realmente acho isso muito útil. Se ficou alguma dúvida coloca que eu vou tentar responder à todo mundo. 

Bons sonhos!

;D

Lugar de Fala

Observar crianças brincando é sempre interessante.

Existem diversas formas de agruparmos e separarmos as pessoas. Qualquer característica em comum é motivo pra unir um grupo. Dependendo do ambiente, uma característica ganha ou perde importância. No colégio agrupamos os alunos pelo ano de fabricação. Cada turma é um conjunto de pessoas que nasceu no mesmo ano. Não é exatamente óbvio que deva ser assim, haja visto que as pessoas se desenvolvem em ritmos diferentes. No ambiente de lutas profissionais, separam-se as pessoas por faixas de peso. Mundialmente vamos com o local do nascimento. Outros clássicos são a cor da pele, o time que escolheu torcer, estilo musical, quantidade de dinheiro, etc.

Como animais sociais que somos, evoluímos vivendo em tribos. O critério de pertencimento, a forma de entrar e sair da tribo no passado era bem simples: nascimento e morte.
Hoje em dia muita coisa mudou, mas ainda gostamos de pertencer a tribos. E qualquer característica em comum pode ser critério para a definição de um grupo.

Outro dia observei um grupo de crianças brincando no play do meu prédio. Uma das meninas claramente não gostava de uma outra. Dava pra ver ela incomodada, olhando a outra interagindo com o grupo, e ela ficou um tempo observando, até que em algum momento ela disse “ta bom, agora a gente vai entrar na casinha pra brincar, mas só pode ir quem ta de sapato porque a casa é nova”. Ela tava falando de uma casinha dessas de plástico, e obviamente que a única que estava descalça era a tal menina que por algum motivo virou o desafeto da outra. Assim que ela disse isso todas olharam os próprios pés, e cada uma que estava de sapato ficou aliviada e entrou. A que estava descalça ficou parada sem saber o que fazer. A pequena ditadora então deu as costas pra ela, entrou na casinha e foi seguida pelas demais. A que ficou de fora foi correndo pra mãe.

Pouco tempo depois volta ela, toda feliz de sapato, e é mais uma vez impedida de entrar na brincadeira. No meio de uma breve discussão infantil a mãe intervém e pergunta porque ela não pode brincar. A outra, que antes criou a regra do sapato, agora tentava uma séries de pequenos argumentos, mas infelizmente sua capacidade argumentativa, aparentemente tão eficaz com oponentes da mesma idade, se provaram insuficientes contra uma mãe.

A motivação e a tentativa de racionalização na criança são engraçadas, pois ela ainda é incapaz de esconder bem seus motivos por trás de uma cortina de justificativas. Mas ela vai continuar a fazer isso, vai melhorar, e quando chegar à fase adulta estará tão boa quanto cada um de nós. Somos experts nessa arte de racionalizar e esconder motivos, muitas vezes até de nós mesmos.

Achamos graça no comportamento da criança exatamente por ele ser um espelho simplificado de nós mesmos. O riso é meio que roubado, é forçado pra fora ao percebermos uma verdade crua, explícita, que em algum nível mostra exatamente quem somos e o que fazemos. Rimos da inexperiência da criança em tentar justificar uma vontade boba, mas o riso se refere à falta de habilidade, não no fato dela querer fazer isso pra começo de conversa. Pois sabemos que somos todas assim.

O clube de ricos, o Iate clube, o clube do charuto ou do poker, são adultos dizendo que o outro não pode entrar porque ele não ta de sapato. É a menininha no play, mas agora ela é grande e entende como o mundo funciona. Agora ela escreve as regras de quem pode entrar na casinha, coloca um segurança de terno na porta e a vida segue. Não tem mais mãe pra argumentar.

Uma coisa que parei pra pensar sobre as discussões que vi recentemente foi sobre o lugar de fala. Vi muitas pessoas divulgando a ideia de que apenas quem tem X (inclua aqui o que quiser) pode falar sobre tal assunto. É novamente o sapato pra entrar na casinha.

A escolha de qual característica é a que deve ser levada em conta não é um axioma, uma verdade absoluta, e por mais óbvia que pareça, ainda é subjetiva, tem muita, muita gente que pode e vai discordar dela.

É interessante perceber como coisas que são auto evidentes pra nós muitas vezes são apenas hábitos bem comuns, mas no final, não tão auto-evidentes assim. Bater palmas. É algo que fazemos a vida toda, mas se parar pra pensar, juntar e separar as mãos em um curto intervalo de tempo não tem uma conexão evidente com apreciação.

Existem infinitas regras possíveis sobre lugar de fala.

Um grupo de filósofos pode defender que apenas quem é formado em filosofia pode argumentar publicamente sobre qualquer assunto, uma vez que a arte da argumentação é estudada pela filosofia, e os leigos no assunto irão apenas falar falácias e gerar mais confusão. O lugar de fala então, é exclusivo dos filósofos. Esse é o sapato pra entrar na casinha.

Pense num tema polêmico como o aborto por exemplo. Um grupo de médicos argumenta que só quem entende tecnicamente do assunto pode opinar. Só médicos formados entendem do desenvolvimento embrionário e dos conceitos indispensáveis à uma discussão do assunto.

Outro grupo diz que apenas que tem útero tem lugar de fala, pois é uma questão sumariamente pessoal e particular.
Já um sociólogo diz que a sociedade depende do nascimento, que o ser humano não é individual, e que o tema do nascimento diz respeito a todo o grupo, e que a experiência é o indispensável, assim o lugar de fala são dos mais velhos. Apenas quem tem mais de 60 anos pode votar sobre tal assunto.

Já uma astróloga sugere que apenas os cancerianos tem direito ao lugar de fala sobre o aborto, pois é um signo mais cuidadoso e em sinergia com esse tema. Outro cidadão diz que o lugar de fala é apenas de quem tem filhos, pois só esses sabem do que poderiam perder. Outro diz que é dos que tem mais de 1,70m, ou dos que gostam de ambrosia.

Existem infinitas regras, infinitas variações de “não pode entrar na casinha quem ta sem sapato”.

Pode parecer óbvio, tão ridiculamente óbvio que chega a dar raiva que só quem é mulher deveria falar sobre o aborto. Mas pra alguém já foi igualmente óbvio que o negro deveria ser escravizado. Talvez pra alguém realmente só os cancerianos devessem ter o lugar de fala. É uma crença legítima pra essa pessoa. E todas são subjetivas. Todas.

Não é subjetivo que o feto se desenvolva no útero, mas que a decisão sobre o lugar de fala seja da mulher, isso sim. Eu não estou dizendo que não deveria ser, apenas que é uma decisão subjetiva e não-óbvia.

Entendo a lógica do lugar de fala ser uma postura compensatória. Por tanto tempo a nossa sociedade foi machista e opressora com as mulheres que é correto elas retomarem o controle, é justo lutar pelo seu espaço. Esse é apenas um exemplo de tema polêmico, substitua por qualquer outro e faça o exercício mental.

Em argumentação, existe uma estratégia chamada “ataque ao boneco de palha” (straw man), que consistem em criar uma exemplo ridículo do oponente e atacar esse exemplo, e não a pessoa ou argumento real. É uma falácia, um “golpe baixo” em termos de argumentação.

Por exemplo se eu digo que o gasto com as forças armadas são enormes e poderiam ser reduzidos, e a pessoa responde “você não valoriza o exército e quer deixar o país sem defesa”. Isso é um “ataque ao boneco de palha”. Ela não argumentou comigo, com meu ponto, mas com uma versão exagerada e irracional do que eu falei.

O canal “mamãe falei” faz basicamente uma versão do “boneco de palha” real. Qualquer grupo grande o suficiente tem “idiotas”, tem pessoas que estão lá pelos motivos errados, que são menos articuladas, impulsivas e que falam besteira, particularmente sob pressão. O que ele faz é escolher temas polêmicos, políticos, e busca em manifestações até encontrar alguém que represente esse boneco de palha. Dado que ele controla o material, está num terreno seguro. Ele pode deletar ou editar as entrevistas até encontrar uma que contenha besteiras ditas, que vá render mais visualizações. Qualquer pessoa que não se mostre um idiota, ou que mostre que ele é um, fica fora do material que vai ao ar (ou ao youtube, no caso).

Uma posição oposta foi criada e chamada de “steelman”, que seria ‘o homem de aço’, que consiste em fortalecer o argumento do oponente e ai sim atacar essa posição. Essa opção oposta me interessa mais.
É a que o professor do curso mais famoso de filosofia política de Harvard fazia com maestria. O Michael Sandel trazia temas polêmicos aos alunos durante as aulas, e fomentava debates. Mas ao invés de buscar a pior versão da opinião do aluno sobre o tema, ele melhorava cada opinião, sendo capaz de encontrar parte de uma resposta e relacionar com a posição de algum filósofo famoso e “melhorar” o argumento da pessoa.

Por exemplo, numa discussão sobre se o alistamento militar deveria ou não ser obrigatório, uma aluna diz que não, que a pessoa devia poder pagar pra não ir dado que tenha alguém querendo essa função e emprego, que assim o estado poderia usar esse dinheiro de forma eficiente e todos saem ganhando. Ai o professor, logo relaciona a posição dela com a do filósofo John Stuart Mill, que defendia a tese do utilitarismo, na qual as escolhas mais sensatas são as que geram a maior utilidade para o maior número de pessoas, e pergunta se ela está de acordo com isso. Ainda inclui exemplos de outros ambientes nos quais algo assim aconteceu, no bem que é gerado e como esse dinheiro poderia ser utilizado, cria um cenário ideal e convida o próximo a argumentar contra esse ponto, já fortalecido. E faz o mesmo com cada argumento que aparece. Se a pessoa se confunde ou se expressa mal ele sempre pede pra ela reformular, dá mais tempo, sugere opções e exemplos se for o caso, faz o possível pra tirar o melhor argumento e a opinião de forma mais clara e precisa da pessoa.

As duas pessoas se propõem a fazer a mesma coisa. A grosso modo, tanto o cara do mamãe falei quanto o professor de Harvard fomentam o debate público sobre assuntos importantes. Ambos entendem a importância de lidar com o público e dominam, pela experiências, diversas formas de fazer isso. Sabem que as pessoas podem ser irracionais ou incoerentes ao falar suas opiniões. Que muita gente fica confusa e tem crenças fortemente enraizadas mesmo que se mostrem incapazes de verbalizar corretamente, e que fiquem nervosas e incomodadas ao descobrir furos lógicos e falta de informação sobre um assunto.

A grande diferença está principalmente no objetivo de cada um. Um busca desmerecer e debochar de uma posição, gosta de achar caricaturas e expor o ridículo de cada um, enquanto o outro busca fortalecer as pessoas e suas posições, ajuda a argumentar e expor sua opinião da melhor forma possível. E o objetivo é certamente diferente, não é a toa que um busca o máximo de visualizações no youtube enquanto o outro é um professor que quer ensinar, quer que cada um se torne mais consciente da importância do debate respeitoso, de se conhecer melhor e compreender as consequência e raízes de suas posições políticas.

É irônico que, mesmo sem querer, o canal do professor tenha mais visualizações que o outro. Um grupo pediu pra filmar suas aulas, ele permitiu, e depois se surpreendeu com o interesse internacional que suas aulas receberam. O outro canal usa todas as estratégias de marketing e com o tempo conseguiu uma base fãs que os sustenta.

Ambos percebem um ponto fraco que temos sobre nossas opiniões e posições políticas. Ambos ganham a vida, tem profissões em relação a essa característica das pessoas. Só que um ganha dinheiro com o deboche, encontrando ângulos que exponham pessoas ao ridículo, enquanto o outro busca esclarecer e ajudar as pessoas a terem conversas mais profundas e a gerar mudanças reais na sociedade. Um ganha dinheiro diminuindo as pessoas de um grupo, enquanto o outro ganha elevando todas indistintamente.

Algumas meninas ficam buscando formas de impedir a outra de entrar na casinha, enquanto outras buscam formas de convidá-las.
Quem é você nesse play?

Sobre o Racismo Estrutural

O nossos pensamentos, enquanto sociedade, ficam registrados nas coisas, materiais e imateriais que nos cercam. Vou argumentar aqui que o nosso mundo é composto de um Software e um Hardware, e que nossos preconceitos e filosofias ficam neles materializados.

O software são os hábitos, as formas de conversas, as palavras, ditos populares, expressões idiomáticas, e as normas de boa conduta. O caldo cultural no qual todos somos imersos ao nascer numa sociedade e que só percebemos ao saber de um lugar distante no espaço ou no tempo e notarmos as diferenças. É o que “todo mundo sabe”.

O Hardware são as construções físicas, desde objetos, utensílios do dia-a-dia, roupas, móveis, até os prédios, casas, estradas e praças em que vivemos.

O ser humano é extremamente sensível ao meio em que vive, e ao mesmo tempo que molda é por ele moldado. O artista é como uma antena, que capta os sinais do tempo e local em que vive e os expressa por algum meio. Como são inúmeros os sinais, e diversos os meios, a arte é infinitamente diversa e plural. Assim nascem os filmes, peças, músicas, performances e tantas outras expressões de pessoas que são na verdade expressões de um tempo. Ao ser perguntado, pelos generais invasores na Guerra Civil Espanhola, se ele tinha pintado o quadro Guernica, Pablo Picasso respondeu: “Não, foram vocês que pintaram”.

Mas não só os artistas funcionam como antenas que captam os sinais do meio e os expressam em sua arte. Todo ser humano faz isso de uma forma ou de outra. Nossos pensamentos, o inconsciente e consciente coletivo, vivem assim, nos softwares e hardwares da nossa sociedade.

É falta de educação perguntar a idade a uma dama. Porque? Pois os conceitos cristalizados no dito popular são de que o valor da mulher está intimamente relacionado à sua beleza, e que a juventude é superior à velhice. Que temos medo da morte e vergonha da decrepitude, que fugimos desse assunto. Que a mulher deve lutar contra os avanços do tempo, e nós, como sociedade, devemos ajudar e portanto evitar a pergunta.

Por muito tempo o educado era os homens se levantarem quando uma mulher se juntava à mesa. O homem deve pagar a conta, puxar a cadeira e segurar a porta, sustentar e proteger a mulher. A filosofia que sustenta tais atos são da inferioridade da mulher em relação ao homem. Que a mulher é menos capaz e precisa ser cuidada pelo ó-tão-superior-homem. Falar sobre sexo é tabu pois a igreja por séculos dominou a moral e define que isso é feio, errado, e até hoje, por mais que o tabu venha sendo quebrado, milhares e milhões de pessoas sofrem com os excessos ou faltas na vida sexual. Ainda é algo a ser escondido, e principalmente a mulher é julgada por expor seu corpo e culpada pelas sensações que causam nos homens. A cultura do estupro nada mais é do que a percepção de como essas ideias que permeiam a nossa sociedade se traduzem em atos dos mais danosos. Que um estupro não é um evento isolado no tempo e espaço, mas fruto do meio em que acontece.

O criado-mudo é o nome do móvel que fica ao lado da cama. O nome vem dos escravos que eram obrigados a ficar a noite inteira parados e calados ao lado da cama dos senhores, como verdadeiros objetos sem vida. O móvel materializa a filosofia vigente da época em que foi criado. A copa é outra solução arquitetônica ao dilema de como ter o serviço prestado pelos serviçais e ao mesmo tempo ter a maior distância possível da criadagem? Então cria-se um espaço entre a cozinha e a sala de jantar, para que os senhores não precisem ver, ouvir ou sentir o que se passa na cozinha quente e suja. A casa grande e a senzala naturalmente explicitam esse distanciamento e os conceitos bem diretos da escravidão sobre a superioridade do branco e a desvalorização do negro. Inclusive, daí nasceu a palavra denegrir. Se ser negro é pior, denegrir é piorar.

O politicamente correto só é o chato a quem vive no privilégio sem saber, e se sente incomodado ao ter que mudar. Porquê mudar, pra que mudar? Minha vida é tão boa assim.

Na Alemanha os alunos levantam quando o professor entra na sala. Lá os professores recebem salário muito maiores se comparados ao Brasil. A sociedade respeita mais o professor, e isso se reflete na decisão dos políticos sobre como destinar recursos à educação. Mas o respeito gera os salários altos, ou os salários altos geram o respeito? É um ciclo que se retroalimenta.

O documentário “Crimes de Amor em Kabul” mostra os casos de meninas e mulheres que foram presas por adultério em países muçulmanos. Em muitos casos o crime foi ter sido encontrada conversando com outro homem sem a companhia de um pai ou irmão. Homosexualismo é contra a lei em diversos países, e até pouco tempo um homem podia legalmente assassinar a esposa se ela o estivesse traindo. Os hábitos e normas de conduta moldam as leis e são igualmente por elas moldados.

A nossa relação com o meio é uma via de mão de dupla, em constante movimento, eterna mutação. Eu levei muito tempo pra entender o que significava o termo “Racismo Estrutural”. (e não acho que entendi totalmente).

Toda forma de pensar se materializa nos softwares e hardwares, no tecido material e imaterial do qual é tecida a nossa civilização, e quanto mais tempo uma filosofia perdura, tanto mais profundas as raízes dela na nossa sociedade. As opressões da superioridade branca, masculina, hétero, cristã e tantas outras viveram e ainda vivem nas ideias e nas coisas. Por isso existe um racismo, machismo e tantos outros ismos de opressões estruturais.

O quartinho de empregada, tão comum, nada mais é do que uma versão adaptada da senzala. Os recursos e espaços não são mais os do Colonialismo, mas a filosofia subjacente de separação e distanciamento é a mesma. Temos esses conceitos vivos na arquitetura e engenharia civil, que constroem entradas separadas ao serviçais nos prédios, quartos desproporcionalmente menores, em geral sem janelas e na cozinha, juntamente com um banheiro pra criadagem.

Isso significa que você, por ter um quarto de empregada, usar um criado-mudo ou achar falta de educação perguntar a idade de uma mulher é racista e machista?

Não. Nem de longe. Isso apenas significa que ter clareza da história é compreender como chegamos aqui, que séculos de opressão não somem facilmente. Que não basta acreditar intelectualmente que somos iguais, mas que essas crenças precisam de muito tempo e esforço para penetrarem tão profundamente quanto seus opostos. Que fazer nada é ser opressor pois o sistema é opressor, o hardware e software em que vivemos foram desenvolvidos em um mundo majoritariamente opressor, e essa opressão existe a tanto tempo que parece normal, não a vemos, assim como o peixe não percebe a água. Pra ficar num mesmo lugar num rio não basta não fazer nada, você precisa ativamente nadar contra a corrente.

Por isso que não basta ser neutro, é necessário ser anti-racismo, anti-machismo, anti-homofobia, anti-opressões que são baseadas em filosofias e visões de mundo com as quais discordamos. Por isso as coisas mudam. O humor é um dos canais de expressão artística, e com o tempo piadas ganham e perdem a graça. Eu hoje realmente não acho engraçado piadas de loira burra, e não por que me policio e me forço a isso, mas porque esse tema não me toca mais.

O racismo estrutural existe pois por séculos ele coexistiu com a criação do mundo em que hoje vivemos. As filosofias de desrespeito à mulher, à criança, aos homosexuais, aos animais, à natureza, todas fazem parte de uma visão de mundo que conflita com o que hoje sabemos. Os conceitos de certo e errado, bom e mau mudam com o tempo, e precisamos compreender e agir ativamente, de forma a criar um mundo que represente as nossas crenças. E conforme as crenças evoluem, o mundo se transforma, e o mundo transforma as crenças numa dança eterna que segue ao longo do tempo. Cabe a cada um a decisão de como dançar nesse momento.

O Preço do Seu Sonho

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“Se você não conseguiu o que queria, é um sinal de que não queria de verdade, ou que tentou barganhar o preço.” – Rudyard Kipling

Nem todo sonho é igual. Um grande amigo meu é um saxofonista excepcional. Ao final de um dos seus shows, uma pessoa da plateia veio falar que achou a música incrível e que adoraria saber tocar assim. O meu amigo respondeu “Que ótimo, muito obrigado! Pra tocar assim é bem simples. É só praticar de 4 a 6 horas por dia, todo dia, que em uns 5 ou 6 anos você certamente estará tocando assim”.

É lindo quando sabemos o preço dos nossos sonhos. Eu achei que desejava saber tocar saxofone, mas depois de ver o preço de desenvolver essa habilidade, vi que era caro demais pra mim. Prefiro apreciar da plateia e usar meu tempo de outras maneiras.

Digo que nem todo sonho é igual, pois não desejamos as coisas com a mesma vontade. Quanto maior a vontade de algo, quanto maior o desejo, maior a motivação em conseguir, mais estou disposto a pagar. É simples assim. Quem quer dá um jeito, quem não quer dá uma desculpa. A motivação é como o combustível. Se tiver o suficiente, você chega a qualquer lugar. O meu desejo em tocar saxofone não é suficiente pra chegar onde gostaria, então aceito que não quero isso de verdade. Foi só um anseio passageiro, uma sedução momentânea.

O ser humano tem a incrível capacidade de ver o que não existe. Somos o único animal que consegue fazer isso. E é essa habilidade que nos permite ser criadores. Tudo existe primeiro no campo das ideias pra depois se materializar. O desejo é a relação emocional que temos com um futuro imaginado, e é esse desejo que torna tudo que existe possível. Pois tornar a imaginação uma realidade requer trabalho. Quanto maior a emoção, quanto maior a intensidade do desejo, mais energia temos pra materializar o sonho, pra superar as inevitáveis barreiras e obstáculos para realizar o que vislumbramos.

Mas somos criaturas dinâmicas, estamos sempre em movimento. Então precisamos de ferramentas e ajudas pra manter nosso desejo vivo, nosso objetivo em foco. Pois o desejo existe no plano etéreo e imaterial da imaginação, e é frágil, vulnerável, como um recém nascido, precisa da sua proteção e atenção constante pra permanecer vivo. No seu campo visual mental, a sua visão do seu sonho é forte ou fraca? Pequena ou grande? Bem focada ou meio borrada? Está perto ou longe na sua imaginação? Isso faz toda a diferença.

Todo exercício de visualização criativa ensina a importância de visualizar o que você quer como realidade, de passar essa imagem ao seu subconsciente, de ter absoluta clareza do que se quer. E o primeiro passo na Gestão Karmica é ter esse objetivo claro pra você mesma. Escreva em poucas frases o que é o seu desejo.

É extremamente importante termos clareza do que queremos. Do ponto de vista emocional, psicológico, financeiro, espiritual, de qualquer ângulo que se possa pensar, é fundamental entender o que queremos em detalhes, e o preço disso, o quanto de esforço e dedicação teremos que investir pra ter o resultado almejado.

O Buda disse que todo sofrimento vem do apego, e que o apego vem do desejo – essa é, então, a causa raiz de todo o sofrimento da humanidade. Não sei se algum dia vou chegar no estado de desapego total, na completa falta de desejo, e nem sei se quero isso, pelo menos não agora. Não sei como seria. Mas o que eu sei é que me tornar consciente dos meus desejos e dos meus apegos tem sido extremamente valioso. Pode ser que seja apenas um passo no caminho, mas eu percebi que quanto mais eu entendo quão trabalhoso são certos sonhos, menos eu os tenho de forma leviana. Posso ver algo bonito e desejar, mas esse pensamento não cria raiz na minha mente, não me consome, vira algo passageiro, interessante, até divertido. O que livra o meu foco para as poucas coisas que realmente me importam, aquelas que depois de todo o processo se mostraram valendo a pena. Os sonhos cujos preços eu estou disposto a pagar.