Posfácio do meu livro: Gestão Kármica

Tenho recebido diversos feedbacks de pessoas que leram o meu livro, e me impressionei sobre quantos falaram especificamente sobre o posfácio. Então resolvi postar ele aqui na íntegra.

Posfácio 

A norma culta da língua portuguesa prioriza o gênero masculino. Quando cita-se, por exemplo, uma profissão, não há uma obrigatoriedade em que ela seja no masculino, apesar de ser esse o mais comum. “Se você for falar com o seu chefe…” ao invés de “Se você for falar com a sua chefe…

Também, apesar de não haver uma regra, quando um texto fala com a pessoa leitora, usa-se comumente o gênero masculino. Optei por priorizar o gênero feminino ao longo do livro, exceto quando falo de mim ou dou exemplos meus. 

Eu notei que houve, em mim, por muito tempo, um medo de errar, de passar a impressão de que eu ó-meu-Deus poderia não saber algo. Assim antes de qualquer coisa eu precisaria avisar à pessoa leitora que eu sei sim que a norma culta pede que, por exemplo, século seja XV e não 15, viu! Imagina se acham que eu não sei algarismo romano?

Mas essa regra não é nem é uma regra. É apenas um hábito consagrado. Diria que é mais inclusivo usar o numeral arábico (no Brasil mais pessoas reconhecem 15 do que XV), mas nem foi por isso que escolhi. Acho mais simples, mais orgânico, e vejo um valor também em ir contra regras arbitrárias quando há algum ganho nisso. Não estou levantando nenhuma bandeira contra o uso de algarismos romanos, mas acho importante lembrar que podemos fazer algumas coisas de forma diferente. Acho válido gerar, em alguns casos, um estranhamento. Isso fomenta uma reflexão que pode ser saudável, positiva. 

No caso do gênero, em especial, busquei conscientemente gerar esse estranhamento. Não acho que a norma deveria mudar para o feminino e, no momento em que escrevo este livro, não existe ainda um acordo aceito sobre um gênero neutro. Há algo sobre chamar a atenção para esse hábito de priorizar o masculino, sem exagerar o peso desta medida, sabendo que vai ser imperceptível para muitos, uma mera curiosidade para outros. O estranhamento, em geral, pode levar a uma reflexão sobre o assunto, dado que não seja polêmico ou agressivo demais. Vejo essa reflexão como saudável e valiosa.

A decisão de publicar um livro com estes pontos dúbios sem um aviso prévio foi por 3 motivos. O primeiro é o de gerar o estranhamento e a reflexão, e ele me parece mais forte sendo observado organicamente, por isso uma explicação no começo seria contra-producente. 

O segundo é mais pessoal. É uma forma de lidar com minhas inseguranças. De enfrentar o medo (mesmo que eu perceba quão infantil ele me soa ao ser escrito aqui), de me lembrar que tudo bem se alguém achar que eu não sei escrever, que estou errado ou sou limitado (e/ou coisas piores). 

Um grande número de pessoas começa mas não termina um livro. As estatísticas de abandono literário são altíssimas. Esse foi o terceiro motivo para eu colocar essas explicações no final. O objetivo deste livro é ensinar sobre Gestão Kármica. Se uma leitora abandonar o livro nas primeiras páginas, eu prefiro que ela saia sabendo algo sobre plantar e colher, sobre ajudar os outros a conseguir o que ela quer, do que gastar o seu precioso tempo comprovando que eu sei sim a norma ortográfica.

Eu tentei ser o mais direto ao ponto, mostrar o quanto antes sobre o que é o livro, lembrando também que a repetição é a mãe do aprendizado, e que ao longo do livro teria a oportunidade de aprofundar nos tópicos para as leitoras que seguissem adiante. 

Busquei fazer o livro mais conciso possível. Cortei muitos capítulos, trechos, parágrafos e divagações do manuscrito original na intenção de simplificar e ser o mais eficiente na transmissão do conhecimento. Um livro grande espanta muitas pessoas. Coloquei o máximo de exemplos, meus e de outras pessoas pois acho que é sempre mais fácil lembrarmos histórias do que conceitos puramente abstratos. 

No caso dos exemplos, usei de 3 tipos: pessoas famosas, exemplos meus e exemplos fictícios. 

A vantagem de usar uma pessoa famosa, uma figura pública é que as pessoas leitoras tendem a conhecer o caso, ou podem ter acesso se quiserem, podem pesquisar o que foi dito, conferir e aprofundar. Há um conforto em ler nomes e casos conhecidos, em observar talvez uma nova dimensão ou ver de uma forma diferente a vida daquela pessoa. Adoro ler biografias e aprendo muito com elas. 

Exemplos fictícios servem para ilustrar uma ideia sem se perder nos detalhes. Sempre que usei exemplos reais eu mudei o nome das pessoas para respeitar a privacidade de amigas e clientes, às vezes adaptando o caso para simplificar. 

Exemplos meus são os mais pessoais, os que posso falar com mais profundidade e propriedade. Busquei me colocar vulnerável e me abrir ao máximo também como um exercício pessoal. 

Muitos dos exemplos foram sobre dinheiro (bens materiais) e sobre relacionamentos afetivos. O primeiro motivo é que esses dois tópicos são, sem sombra de dúvidas, os mais constantes e consistentes de todos que buscam a Gestão Kármica, os interesses mais fortes do maior número de pessoas. 

Segundo, que são exemplos mais claros e objetivos. É fácil eu falar da fortuna do Warren Buffett, ele é um investidor famoso, ou do Michael Phelps, ou do Steve Jobs, pois esses dados são públicos e dinheiro é fácil de mensurar. Falar sobre felicidade ou de qualquer estado interno de satisfação é mais difícil, gera dúvidas, a pessoa pode estar mentindo sobre o que diz e é quase impossível encontrar evidências claras. Além disso, a nossa sociedade valoriza o sucesso financeiro e os bens materiais tendem a ser objetos de desejo. No entanto a Gestão Kármica se aplica tanto à objetivos materiais quanto aos imateriais, e recomendo você testar e expandir os horizontes do que é possível.

Trechos de livros em inglês que coloquei como citações foram de tradução livre minha para o português.  

Uso a Gestão Kármica há anos e vivo diariamente notando colheitas e plantios. Erro muito e sigo experimentando. Acredito profundamente que aplicar esses conceitos na sua vida vai fazer uma enorme diferença para melhor. Espero com todo o coração que você experimente e que compartilhe seus sucessos com amigas, familiares e desconhecidas.

*****

O ser humano tem a tendência de buscar exceções às regras. É algo natural, talvez uma forma de encontrar furos na lógica que se apresenta. Alguém fala uma regra e imediatamente buscamos um exemplo ao qual ela não se aplique. 

Quando falo sobre o Karma, é muito comum surgirem diversas dúvidas, por exemplo, sobre crianças que nascem com doenças, o que elas poderiam ter feito para merecer isso? 


O Karma é um tópico longo e complexo, e a religião e filosofia budista é um tema igualmente amplo e complexo, que se desenvolveu ao longo de séculos, com diversas vertentes em diferentes países. O conceito de Karma existe em diferentes religiões, muitas vezes com outros nomes, mas no Budismo e no Hinduísmo ele aparece de uma forma mais aproximada da que tratamos neste livro. 

Setores destas religiões acreditam na persistência da alma após a morte, e em um ciclo de reencarnação do espírito. Após a morte esse espírito poderia reencarnar, carregando consigo parte do seu Karma da vida passada. Isso explicaria variados casos como o de crianças que nascem com enfermidades (e diversos outros).

Busquei focar nas aplicações práticas do Karma e não entrar em explicações que dependam de uma crença no sobrenatural ou em reencarnações. Dito isso, acho importante ressaltar a minha parcialidade. Eu acredito que somos seres espirituais tendo uma experiência terrena, acredito que reencarnamos diversas vezes e que a cada jornada temos a oportunidade de prosseguir com os aprendizados, e que trazemos conosco a memória de algumas ações, como um Karma passado – que pode ser “positivo” e “negativo”. Positivo E negativo, pois ninguém realizou apenas ações positivas ou negativas. 

Acredito também que essa crença pode turvar a nossa visão, pode fomentar um excesso de orgulho ou inveja, raiva ou vaidade, de acordo com a análise, quase sempre parcial, incompleta e tendenciosa que cada um costuma fazer da própria história. O que importa no final é o ganho marginal, a diferença de onde estou para onde quero ir. Se eu nasci com uma enfermidade ou com a “bunda pra lua”, importa menos do que como eu ajo a partir disso. 

O sistema de castas na Índia é o exemplo vivo de como as pessoas se deixaram levar pelos conceitos de vidas passadas, e o orgulho criou raízes por séculos nas castas mais altas, que tinham a certeza de serem superiores, senão, não teriam nascido ali. Essa crença alimentou o distanciamento, o preconceito, o orgulho e em muitos casos o desprezo e ódio pelos vistos como “inferiores”. Nada poderia ser mais danoso à mente humana do que se acreditar superior ao outro, especialmente quando a explicação está perdida no véu do esquecimento – em vidas passadas – e não pode ser contestada racionalmente.

Acredito que a visão de renascimento pode explicar sim alguns casos. Muitos livros espíritas contam de pessoas que escolheram, pediram para nascer com uma enfermidade, por exemplo, para viver essa experiência, por terem elas sido algozes no passado. Mas cada caso é um caso, e existem milhares de motivos diferentes para algo acontecer. Não nos cabe julgar a consequência sem ter acesso à causa. 

E não digo que essa é a única explicação, e nem que essa crença seja necessária ou decorrente do conceito do Karma. Se o assunto te estimula a curiosidade, sugiro um estudo mais aprofundado (pessoalmente gosto muito dos livros do Chico Xavier, a começar pelo “Nosso Lar”).  

Por ora, me cabe dizer que para as suas questões, desde o emprego que busca, a uma relação mais fluida com o marido/esposa, chefe/colegas de trabalho, a vontade de ter mais sorte na vida, bons momentos, diversão, beleza, isso tudo pode ser conquistado com um foco em ajudar os outros. Não importa o que você fez na outra vida, se é que ela existe, importa sim o que você decide fazer nessa. Você cria o seu Karma a cada instante, a cada decisão.

Cada um colhe o que planta.

;D