Todo mundo é único, mas ninguém é insubstituível

Todo mundo é único, mas ninguém é insubstituível.

Essa frase brotou na minha cabeça do nada. Veio assim tão pronta que eu achei que já tivesse lido em algum lugar, que fosse uma citação e eu só não lembrasse de quem, mas fui pesquisar e vi que não. Fiquei um pouco surpreso, e comecei a analisar de onde veio, o que eu queria dizer com isso. 

Todo mundo é único. Sim, isso é óbvio, sei há muito tempo. Mesmo gêmeos idênticos têm experiências diferentes. Cada pessoa observa a realidade do seu ponto de vista. Lembro da primeira vez que vi neve, meu pai pegou um floco na luva e colocou perto do meu rosto pra eu ver os detalhes. Era lindo. Ele disse então algo que me marcou muito na hora. Falou que não haviam dois flocos iguais, que cada um tinha um padrão único. Que de todos os flocos caindo, os que já tinham caído e os que iam cair, cada um era diferente dos outros todos.

Eu achei aquilo loucura, como ele podia saber? Estava uma nevasca, milhões de flocos caindo, ventando em todas as direções, alguém tinha pego um por um pra conferir? Como ele podia dizer que não tinha dois iguais? Não fazia sentido. Levei muito tempo pra entender a matemática por trás, como pode a água cristalizar com tantos padrões diferentes. E é isso mesmo.

Pro ser humano é mais fácil notar a unicidade de cada um, e por um tempo meu ego se inflava ao pensar que eu sou único, só eu sou assim, não tem nem nunca vai ter outro como eu. 

Mas depois o “ninguém é insubstituível” é um tapa na cara. Derruba tudo que o ego montou. Como assim? Eu não era único? Como que alguém vai me substituir? Quem?

Acho que esse paradoxo aparente me incomodava, sem eu nunca ter expressado assim tão claramente. E à luz dá pra ver melhor como não é nenhum paradoxo. Existem muitos caminhos pra se chegar a um mesmo lugar. Falando de ego, por exemplo, o meu se mostra muito nos relacionamentos. Lembro de um término particularmente dolorido que tive, o maior pé na bunda que já levei. Depois de dois meses teve um dia que, antes de dormir, eu notei levemente assustado que tinha sido o primeiro dia que eu tinha passado inteiro sem pensar nela. Fiquei feliz e triste. 

Enquanto eu estava obcecado por essa mulher, o “todo mundo é único” era um soco na boca do estômago. Nunca vou encontrar outra como a Ana, nenhuma vai ser que nem ela. E a dor, o sofrimento, a capacidade de ficar autocentrado por horas devaneando cenários e situações loucas pra me absorver e perder mais e mais naquilo. 

E o tempo seguiu. Conheci e me apaixonei por outra pessoa, pude voltar a encontrar a Ana e ficar bem (bem depois), não me afetar por ela, seguir como amigo. 

O tempo é esse remédio irritantemente lento e eficaz. Conheci outras pessoas, não esqueci, mas superei a Ana, parei de sofrer, de pensar. 

A Bia me fazia tão bem, estava tão apaixonado, e novamente o medo de perder mostrava sua cara sebosa em alguma esquina do meu subconsciente. E se ela se for? Como vai ser? Só ela me faz sentir assim, nunca vou encontrar outra igual. 

E não. Nem eu nem você, ninguém vai encontrar uma pessoa igual. Mesmo se você ficar com uma mesma pessoa a vida inteira, ainda assim você vai ter vários relacionamentos, com pessoas “diferentes”, pois as pessoas mudam. Já dizia o sábio chinês, um homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes. O rio muda a cada instante e não já é mais o mesmo, e tampouco é o mesmo o homem.

Ninguém é insubstituível pois diferentes equações resolvem o mesmo problema. Há diversas trilhas para o topo da montanha, e novas podem ser criadas. Só eu vou fazer as coisas do meu jeito, só o Jack Nicholson fez o Coringa do jeito dele. Sim. E o que ele fez está lá, ele viveu aquele momento, e ele passou. Depois outros vieram e fizeram diferente. Melhor pra uns, pior pra outros. Cada um inegavelmente único. Todos substituíveis. Isso não diminui o valor de cada um, mostra e explica que somos e temos infinito potencial. 

As pessoas mudam, a gente muda, as situações mudam. As funções que os amigos cumpriam seguem sendo cumpridas. Eu sigo rindo, viajando, conversando, chorando. Mas não com as mesmas pessoas, não com aquele grupo. Alguns se mantém, outros vêm e vão. Alguns passaram a rir menos e a chorar mais. A vida de cada segue com seus momentos, todos únicos, todos mutáveis e dinâmicos. 

A sua jornada na vida é única, e é sua. Você que vai decidir como ela vai se desdobrar, o quanto e como você vai impactar e ser impactado. O fato de ser única te presenteia com um potencial incrível, e o fato de não ser insubstituível te dá humildade e te liberta pra seguir o caminho que quiser. Quem colhe os louros dos acertos e as dores dos erros é você mesmo.